domingo, 2 de outubro de 2011


No Sul do país...
Seguimos para nossa próxima parada, como era em outro estado voltamos a POA, fomos direito para o aeroporto. E a rotina se seguiu. Avião, decolagens e pousos tensos, hotéis, entrevistas, shows, camarins. A rotina tediosa para alguns mas importante para nós. Mesmo sendo em lugares diferentes e com pessoas diferentes, sempre aprendíamos um pouco a cada dia. Melhorávamos como profissionais e principalmente como pessoas. O convívio era muito importante e se manter acessível era primordial para nossa carreira. Passamos pelos três estados do sul. Rio Grande, Santa Catarina e Paraná. Cidades lindas com arquitetura européia. Os shows como sempre fantásticos, público participativo e entusiasmado, lotados.
Nossa turnê estava terminando, do Paraná voltaríamos para Uberlândia, casa, nossa casa, teríamos uma apresentação no Parque do Sabiá onde seríamos homenageados. Cidadãos urbelandenses. Receberíamos medalhas ou coisas parecidas. Não gosto dessas homenagens. Para mim, me sinto feliz só de ver o público cantando nossas músicas, se emocionando nos shows. Só isso era mais do que suficiente.
Acompanhamos durante esse período as notícias dos estragos que aquele temporal fez. Não só em Uberlândia mas também em diversas cidades ao redor. Nos comovíamos com os relatos dos sobreviventes, muitos mortos, muitas pessoas desabrigadas. Quando soubemos que o Festival teria arrecadação e não seriam cobrados ingressos nos solidarizamos. Conversei muito com meu irmão e decidimos também fazer uma doação. Usaríamos o mesmo valor do cachê que receberíamos para comprar material de construção e doaríamos, para que pudessem reerguer as casas perdidas. Ainda no Paraná pegamos o avião de volta para nossa terra. Aquela que escolhemos para viver. Chegamos no meio da tarde mas não fomos para nossas residências. O festival aconteceria ainda naquele dia então fomos para um hotel onde os outros artistas que também se apresentariam estavam hospedados. Era estranho estar perto de casa mas não poder ir para lá. Assim que cheguei ao meu quarto liguei para casa pra saber como andavam as coisas. D. Graça me atendeu imediatamente, disse que estava tudo na santa paz de Deus. Perguntei como estavam as coisas no prédio na expectativa de saber notícias de M. Mesmo nesses dias longe não contive minha curiosidade. Queria e muito saber o porque do seu sumiço.
Chega a noite e com ela o Festival. Não era de música sertaneja mas de cantores mineiros. Estariam presentes nessa noite: Flavio Venturini, Lô Borjes, Skank, Paula Fernandes, Vander Lee e Ana Carolina além de nós, é claro. Estávamos todos nos bastidores, nos confraternizando, afinal era muito difícil encontrar colegas de profissão nessa vida corrida que levamos. Colocamos o papo em dia, trocamos experiências e idéias. O pessoal da prefeitura tinha cortado um dobrado para conseguir colocar o Festival de pé. Estávamos no camarim, eu e meu irmão, conversando com um dos responsáveis pela homenagem. Ele nos explicava que receberíamos uma honra ao mérito, por levar a música sertaneja mineira para todo o Brasil. Tudo muito simples pois devido aos problemas da chuva, não podiam fazer nada muito pomposo. Receberíamos uma medalha, das mãos do prefeito de Uberlândia.

Enquanto nos preparávamos para o show vejo M com o namoradinho dela. Ela me vê e se pendura no pescoço do rapaz dando-lhe um beijo cinematográfico. Fico PUTO! Ela só estava se divertindo comigo. E eu que pensei que tinha encerrado minhas buscas. Procuro disfarçar mas admito, isso mexeu comigo. Ela vem me cumprimentar e resolvo trata-la de forma indiferente.
- Oi! Diz M displicente.
- Olá! Respondo seco. Conseguiu convite?
- Não. Trabalho pra Prefeitura. Marketing. Deixa eu te apresentar. Esse é o meu namorado. Tuca.
Olho para ele e tenho vontade de lhe esmurrar a cara, mas sou educado. Ai como tenho vontade de perder a compostura nessas horas. Ofereço minha mão para cumprimenta-lo e aceno com a cabeça. Não falo nada para não dar na vista. Ele aperta minha mão, firme e bem forte. Até parece! Frangote. Logo em seguida chega Elaine.
- Oi Victor!
Vejo que a conheço de algum lugar, mas não lembro. Ela percebe e emenda.
- Do elevador... prédio da M... festa a fantasia...
- Claro! Você tava de hippie né?
- Isso, uma hippie meio psicodélica. Riu.
Sorrio de volta.
- Também trabalha pra Prefeitura?
- Sim sou colega de repartição da M.
Percebo que está toda solicita para mim. Então me vem uma idéia. Meio canalha mas uma boa idéia.
Começam as apresentações. Estádio lotado. O pessoal da prefeitura tinha arrecadado bastante. Toda a população contribuiu. Como é bom saber que ainda existe solidariedade humana e que o homem se sensibiliza com os problemas do próximo. Começa a festa. Um show melhor que o outro. Também sou fã e aproveito esses momentos raros para poder tietar um pouco meus ídolos. Os bastidores eram uma festa só. Fiz diversas fotos e com todos os artistas fiz questão de falar. M não parava nem um minuto e seu namoradinho parecia incomodado com tudo aquilo. Idiota! Elaine vem ao meu encontro toda simpática.
- E aí Victor tá tudo certinho?
Penso novamente na idéia que tive. Ela tá muito feliz ao meu lado. Então respiro fundo e resolvo atacar.
- Tá tudo perfeito. Foi você que arrumou?
- Foi sim. Fiz tudo com muito carinho. Disse sorridente.
- Nossa! E você é carinhosa assim com seu namorado também?
Ela sorri era a deixa que precisava. Imagina se iria deixar de perder essa oportunidade de ficar com um gato como ele.
- Não. Infelizmente estou sozinha. Livre, desimpedida, sozinha e abandonada. Brincou.
- Por que quer. Uma garota linda como você.
Passei meu braço pela sua cintura abraçando-a fortemente. Ela ri. Um riso meio que nervoso. Resolvo seguir adiante. Ela tava pedindo.

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