No dia seguinte, M
vai para a repartição trabalhar. Chega no horário de sempre. Quando vê Elaine
chegar, lembra da conversa que tivemos na noite passada. Como ela pode mentir
daquele jeito? Ela sabia que eu fiquei mexida com os beijos do Victor e mentiu
pra mim para me afastar dele. Só pode. Vamos ver até onde ela pretende ir com
essa estória. Vou dar corda pra ela se enforcar sozinha, isso sim. Pensou.
Elaine coloca sua bolsa em sua mesa de trabalho e vai em direção a mesa de M
toda sorridente.
- Oi! Mais calma
hoje?
- Sim. Graças a
você. Nem pude te agradecer direito, você foi dez amiga. Dez não mil!
- Que isso! Amigas
são pra essas coisas não é!
Elaine tinha
resolvido não falar nada sobre o Victor. Tuca iria aparecer em breve e
retomaria o namoro com M. Pelo menos foi o combinado. Aí sim, votaria a atacar.
- Almoço? Convida
Elaine.
- Claro. Sorri M.
Eu na mesma manhã
fui a produtora, tínhamos reunião marcada pra ver os shows agendados, além de
fecharmos alguns outros contratos e ainda em pauta a resolução das canções que
iríamos colocar no próximo cd. Dia cheio me esperava. O dia passou voando mas
tive uma boa notícia. Devido ao feriadão próximo não teríamos shows então
combinei com meu irmão de irmos pra fazenda. Fazia dias que não pousávamos por
lá. Ele é claro, se entusiasmou na hora. Seriam cinco dias de paz,
tranqüilidade e dedicação exclusiva para a família. Preciso disso de vez em
quando. Recarrega minhas energias. A noite, chegando em casa vejo M chegar do
trabalho. Dou uma buzinada, Ela se vira e me sorri. Sorriso leve, tranqüilo.
Entro, estaciono o carro e a encontro na porta do elevador, me esperando pra
subirmos juntos. Fico feliz em ver que ela está bem. Tranqüila e calma.
- Oi. Cumprimento-a.
- Oi. Muitos shows
agendados?
- O de sempre. Mas
devido ao feriadão, por milagre, não teremos shows esses dias.
Assim que acabei de
falar tive a idéia.
- E você, vai viajar
no feriadão?
M retirou o sorriso
do rosto. Não tinha pra onde ir nos feriados, nem nas datas festivas. Tinha se
afastado da sua família biológica logo depois que seus pais substitutos
faleceram. Pais substitutos era o termo que usava quando se referia a D. Maria
a cozinheira e seu marido S. Antonio o motorista da mansão que seus pais moram
em BH e que de fato lhe criaram, dando amor, educação e princípios morais.
- Não. Vou ficar por
aqui mesmo. Respondeu se entristecendo.
- Gosta de fazenda?
- Num sei. Nunca fui
em uma. Respondeu voltando a sorrir. Como era encantador seu sorriso.
- Nunca foi numa
fazenda? Como? Mineira e não conhece galinha, porco, cavalo, boi ... Brinquei.
- Pra você ver. Sou
uma pessoa totalmente urbana. Concreto de verdade. Brincou também.
- Quer ir comigo pra
fazenda? Vou na sexta e só volto na quarta pela manhã. Quer?
- Fazenda? Você tem
fazenda? Tentou despistar, eu ainda não sabia que ela era fã da dupla e não
queria que descobrisse de uma forma distorcida essa informação.
- Na verdade a
fazenda é do meu irmão. Ele cria alguns boizinhos e cavalos. Ele adora
apartação.
- Apartação? O que é
isso? Ele bota os cavalos ou os bois pra brigar? Credo!
Eu ri. Realmente ela
não fazia idéia do que era apartação.
M sabia que meu
irmão era bom nisso mas não entedia do que se tratava de verdade.
- Não. É um esporte.
Vamos? Será minha convidada especial, que tal?
- Nossa convidada
especial. Adorei. Acho que vou aceitar sim. Não tenho nada pra fazer por aqui
mesmo. Nem namorado tenho mais.
- Então vamos fazer
o seguinte, a que horas você sai do trabalho? Passo lá pra te buscar, já vai
com mala pronta. Tudo bem?
- Nossa! Você tá
realmente entusiasmado pra que eu vá. Ó não sei nem andar a cavalo viu!
Advertiu me.
- Então tamos
combinados, você vai comigo, como minha convidada, e eu te ensino a montar. A
que horas passo pra te pegar?
- Normalmente saio
as 17hr mas nesse dia posso sair mais cedo. Falo com meu chefe. As 15hr tá bom
pra você?
- Tá ótimo. Assim
chegamos a fazenda ainda com a luz do dia. Você vai adorar, pode ter certeza.
- Também tenho.
Respondeu sorrindo. Como seu sorriso me fascinava.
Nos despedimos entre
risos e brincadeiras. Ótima idéia que tive ao convida-la pra ir comigo pra
fazenda. Assim poderíamos nos conhecer melhor e quem sabe... quem sabe.
O resto da semana se passou tranqüilamente, sem
nenhuma novidade. Avisei ao meu irmão que iria levar M comigo. No inicio ele
não gostou da idéia, devido ao ocorrido no shopping. Expliquei para ele que ela
tinha terminado tudo com o carinha e se sentia muito culpada pelo ocorrido,
chegando a me pedir desculpas. Contei toda a estória para meu irmão. Não sei se
falei. Mas o Leo além de irmão é meu confidente. A pessoa em quem confio tudo
que penso e faço. Não escondemos nada um do outro e a convivência da estrada
nos tornou mais cúmplices ainda. Acho até que ele percebeu antes de mim meus
sentimentos para com M mas guardou pra si. Chega a sexta-feira, e com ela a
minha empolgação. Logo cedo arrumo tudo e levo o carro no posto pra checar
pneus, óleo, freios, essas coisas que são importantes para quando se vai pegar
a estrada. No trabalho M chega toda empolgada, iria conhecer a tão afamada
fazenda dos irmãos Victor e Leo mas o que mais lhe deixava feliz é que foi convidada
por mim. Quem sabe não surgiria uma bela amizade dessa viagem. Viagens são boas
para se estreitar laços. E estar ao meu lado a fazia radiar alegria.
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