sábado, 29 de outubro de 2011

Chegamos na casa principal e Ferreira veio nos receber. Segurou as rédeas do cavalo enquanto que eu depois de descer ajudei M. Entramos pela cozinha, brincando e fazendo palhaçadas, atraídos pelo cheiro da comida de D. Mirtes. Peguei uma garrafa de água da geladeira e servi dois copos. Um para mim, outro para M.
- Então filha como foi o passeio? Aprendeu a andar a cavalo? Perguntou D. Mirtes junto ao fogão, mexendo uma panela de barro.
- Essa aí nasceu uma amazona D. Mirtes. Ela tava era escondendo o jogo. Brinquei.
- Exagerado! O passeio foi ótimo, Tia. Aqui é tudo lindo e grande também. Quanto a aprender a andar a cavalo... olhou para mim rindo, como me fazia bem ver sua felicidade. Bom, meu professor não é dos piores não. Brincou.
- Ah! É assim é! Pode deixar, amanhã vou te ensinar a pescar. Você sabe nadar M?
Todos rimos. Almoçamos num clima super harmonioso. Depois do almoço M foi para a varanda. Sentou numa rede e ficou ali, balançando e com o pensamento longe. Peguei meu violão e fui ao seu encontro. Sentei de frente para ela, na mesma rede.
- Música?
- Show particular é?
- Não acostuma não tá!
Ela riu.
- Quer ouvir alguma coisa em especial?
Ela parou ficou um pouco pensativa, recostou na rede e com um olhar doce e encantador pediu.
- Você conhece casinha branca? Meu pai costumava cantar para mim quando não conseguia dormir.
Consenti com a cabeça e comecei a dedilhar.


Quando terminei notei seus olhos marejados.
- Ah não! Não é pra ficar triste. Já falei viemos aqui pra nos divertir.
- Não é tristeza, é saudade. Só.
Fiz um carinho em sua perna e ela me sorriu. Nunca me senti tão em paz como naqueles dias. Continuamos a cantoria, até o meio da tarde então M se levanta da rede.
- Bom agora se o senhor me der licença. Tenho um bolo pra fazer. Afinal acordo é acordo.
- É verdade! Sorri para ela.
Ela se foi em direção a cozinha enquanto que eu fiquei mais um pouco ali, entretido com a paisagem. Senti uma vontade de compor então me levantei, fui ao meu quarto e peguei minha pasta, a mesma que sempre carrego comigo, com meu caderno e caneta. Voltei a sentar na rede com o violão, abri o caderno na minha frente e comecei a dedilhar algo novo. Logo fui tomado pela sensação de inspiração e então a magia acontece. Minha mão se torna ágil, como se tivesse vida própria. Num breve instante saio de mim e me deixo levar. É a minha alma que se faz valer de sua vontade. Escrevo não uma, nem duas mas três canções novas. Todas com cifras. Fico impressionado comigo mesmo. Quando acaba a inspiração olho para o caderno, leio tudo e fico feliz. Incrivelmente perfeito.
De repente D. Mirtes aparece na varanda.

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