Chegamos a Uberlândia. Paramos em frente a produtora todos
descem e se encaminham aos seus respectivos carros. Despedidas. Desejos de
pronto restabelecimento. O Leo me olha e pergunta:
- Você consegue dirigir?
- Sim. Mas você pode ir comigo? Ajudar com a mala?
Ele concorda e resolve seguir no seu carro atrás do meu.
Chego no prédio. Buzino para o Rafael abrir o portão. Ele me sorri. É domingo a
tarde e tudo está calmo. Estaciono e logo o Leo aparece junto a mim. Deixou seu
carro do lado de fora do prédio. Era mais prático e rápido. Abro o porta-malas
e ele pega minhas coisas. Detesto depender de alguém mas preciso me cuidar pra
poder voltar para a estrada. Para a minha busca. Minha incessante busca. Vamos
em direção ao elevador que já está na garagem. Entramos, aperto o 5 e olho o
botão 3 lembrando de M quase que instantaneamente. Não de toda confusão mas em
minha mente vem flashes dela. Vestida com a fantasia branca e o cordão dourado,
dela entrando no elevador e falando da receita de bolo de coco, saindo para a
academia, do reflexo da chuva em seu rosto no dia da tempestade ... Suspiro. Um
suspiro leve, saudosista.
Chegamos ao meu andar. Abro a porta do elevador e seguro
para que meu irmão saia com minhas coisas. Quando estou abrindo a porta da
minha casa a porta da vizinha se abre. É D. Matilde saindo para mais uma sessão
de carteado, eu acho.
- Oi Victor! Chegou cedo hoje!
- Boa tarde D. Matilde. É, hoje acabou mais cedo. Tento não
entrar em detalhes mas meu irmão...
- Ele se machucou então cancelamos alguns compromissos.
Pronto! Caí na boca da D. Matilde. Olhei para o Leo mas ele
não entendeu.
- Machucou? Como? Posso ajudar em alguma coisa? Ó Victor, eu
já te falei que quando o falecido ficava doente era eu que cuidava dele
pessoalmente? Sei até aplicar injeção.
- Nada sério. Não se preocupe. Tentei desviar mas novamente
o Leo...
- A senhora é enfermeira? Poxa, vai ser uma mão na roda. O
Victor vai precisar tomar umas injeções sim. É que a medicação que ele tá
tomando é injetável. O negócio foi feio mas graças a Deus ele tá se
recuperando. Aí Victor você já tem quem cuide de você. Não preciso me preocupar
com isso então.
Diz olhando todo sorridente para mim. E eu lhe fuzilando com
os olhos.
- Ah! Pode ficar descansado. Seu irmão está em boas mãos.
Prometo que cuido dele direitinho.
Entro com o Leo e D. Matilde aproveitando a deixa do meu
irmão vem logo atrás. Não dou nem a conferida de sempre na sala e deixo a porta
aberta para ver se ela se manca e vai logo embora. O Leo pergunta onde pode
deixar minhas coisas e lhe indico o quarto.
- Se você quiser Victor eu desfaço sua mala pra você.
Oferece-se D. Matilde.
- Não precisa D. Matilde. D. Graça faz isso amanhã para mim.
Disse tentando corta-la. Onde já se viu, era tudo que eu
precisava, D.Matilde separando minhas cuecas sujas das limpas. Logo o Leo volta
lá de dentro.
- Pronto! Deixei tudo no canto perto do armário.
Agradeço a ele com um abraço apertado.
- Não se preocupe. Vou ligar pra mãe e vou pra lá. É só
tempo de tomar um banho. Devo dormir na casa dela.
Graças a minha imaginação rápida encontrei uma saída
pra escapar da D. Matilde. Ainda bem.
- Ótimo! Assim fico descansado com relação a você. Sabe D.
Matilde, esse cara aqui é mais velho que eu mas às vezes se comporta como uma
criança birrenta. Só faz as próprias vontades.
Ai que vontade de esganar o Leo agora. Mas me contento
com um aperto em seu pescoço. Só então ele percebe que está falando demais.
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