Levanto da mesa e
puxo a cadeira para que M se sente. Conversamos animadamente, também com tanta
coisa gostosa na mesa, não podia ser diferente. Ficamos até tarde conversando,
D. Mirtes e o Ferreira sentaram conosco e colocaram o papo em dia com M. Nos
recolhemos cedo pois na fazenda para se aproveitar bem teríamos que levantar
bem cedinho. Era muita coisa pra fazer. Banho de rio, passeios de charrete,
pescaria, ver os filhotes que nasceram, e ainda iria ensinar M a montar. Na
manhã seguinte levantei “com as galinhas”. Tomei meu café e fui ao estábulo
pedir para selar dois cavalos, o meu de costume e um bem mansinho pra M começar
a montar. M levantou cedo também, estava acostumada a acordar cedo. Ela foi até
a cozinha, conversou um pouco com D. Mirtes e lhe explicou que não tinha dito
nada sobre seus pais verdadeiros muito menos sobre ser fã do Victor & Leo.
D. Mirtes a repreendeu.
- Filha, acho melhor
você contar tudo. Afinal você não tá fazendo nada de errado. Mentiras nunca
sustentaram nada nessa vida pelo contrário podem destruir tudo num piscar de
olhos. Se você quer construir qualquer coisa com o patrão. Amizade, amor, não
importa, o importante é que seja em cima da verdade. Seja ela qual for. Seu
Victor é um homem de bem, justo, de família e com princípios. Não tenha medo da
verdade, se você for sincera e honesta sei que ele ira te compreender e te
apoiar no que você precisar.
Sabias palavras da
D. Mirtes, sentia saudades de conversar sobre sua vida. Desde que seus pais
postiços faleceram M tinha se fechado para o mundo. Falava muito pouco sobre
seu passado, suas angustias e medos. Foi para a mesa pensativa e decidiu, iria
aproveitar a tranqüilidade da fazenda e se abrir comigo. Contar tudo,
absolutamente tudo. Sentiu-se segura, depois de muitos anos.
M termina seu café e
volta a cozinha. Ferreira tá tomando um café então ela pergunta:
- Bom Dia Tio! Cadê
o Victor?
- Bom Dia M! Tá lá
fora, filha, te esperando pra montar.
- Meu Deus! Seja o
que Deus quiser. Disse rindo.
M saiu da casa e foi
me procurar, logo me encontra. Eu estava terminando de conferir as selas quando
a vi vindo em minha direção. Abri meu melhor sorriso.
- Bom Dia! Dormiu
bem?
- Bom Dia! Dormi
sim, obrigada, o silêncio ajudou a pegar no sono logo. Como é silencioso aqui.
- É sim. Bom pra
descansar da correria da cidade. E aí? Pronta pra montar?
- Tem certeza que
você quer fazer isso? Poderíamos caminhar um pouco. Diz tentando me convencer a
desistir.
- Nem vem que não
tem. Eu quero o bolo então você tem que aprender a montar. Onde já se viu, vir
a uma fazenda e não andar a cavalo. Vem, esse é bem mansinho. Disse já mostrando
seu cavalo.
Ela veio em minha
direção, meio ressabiada.
- Tá. Mas me
responde duas coisas antes.
- O que? Fiquei
preocupado.
- Onde fica o freio
e cadê o manual de instruções desse bicho aí. Brincou.
Eu não me contive e
cai na gargalhada. Seu bom humor era contagiante.
- Lamento informar
mas o freio tá gasto e o manual só em cavalês. Você sabe ler cavalês? Brinquei
também. Arrancando mais gargalhadas dela. Ela veio para junto de mim. Séria.
- Fica tranqüila ele
é mansinho, passa mão aqui ó. Ele gosta.
Segurei sua mão e
levei ao pescoço do animal deslizando-a pelo seu pelo. Então segurei as rédeas
e mostrei como ela deveria subir no animal. Ela teve dificuldades então
entreguei as rédeas ao peão que estava conosco e lhe mostrei.
- M você pisa aqui
com seu pé esquerdo, segura aqui na sela com as mãos e dá um impulso levando a
perna direita por cima do animal.
- Calma, não sou
loira mas é complicado pra mim. Brincou novamente. Era visível sua felicidade.
Ela subiu com uma
certa dificuldade, segurei-a pelos quadris ajudando no seu impulso. Quando
sentou na sela ficou apavorada.
- Ai Victor! É muito
alto. Tô com medo. Se caio daqui me machuco toda.
- Calma! Você tem
que ficar calma que não cai não.
- E se ele me
derrubar, aí não quero fazer isso não. Tô com medo.
- Calma. Você não vai cair e ele não vai te
derrubar não. É bem mansinho. Não fica com medo. O animal percebe isso. Avisei,
mas foi pior, M entrou em pânico.
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