terça-feira, 25 de outubro de 2011


M deixou sua pequena valise no canto perto da parede, junto a sua mesa. Elaine, que durante o resto da semana se fez de morta ao ver sua mala veio a sua mesa.
- Vai viajar?
- É vou. Vou para BH ver meus pais. Aproveitar o feriadão, sabe como é. Mentiu. Se Elaine mentia pra ela podia perfeitamente mentir também. Pra se preservar somente, não pra obter vantagens. Não gostava dessas atitudes.
- E o Tuca? Voltou a te procurar? Sondou.
- Não, graças a Deus. E sinceramente espero que não venha. Depois do que ele fez. Não quero vê-lo nem pintado de ouro.
O idiota não cumpriu com o combinado. E agora ela vai viajar, droga, teria que dar um ultimato naquele viciadinho. O jeito era esperar que ela voltasse de viagem. Pelo menos não estaria perto do Victor. Pensou Elaine. No horário combinado passo no trabalho de M para busca-la. Paro o carro num estacionamento perto e ligo pra ela. O celular de M toca. Ela olha no visor e abre o maior sorriso.
- Oi. Você já vem?
- Já estou aqui em baixo. Vai demorar?
- Não já estou descendo. Beijos.
- Outro.
Desligo o telefone, meu coração está aos pulos, não entendo por que mas sinto uma enorme alegria nessa viagem. M passa na sala do chefe e bate na porta que estava aberta. Elaine estava lá com ele resolvendo pendências e não ouviu a conversa do telefonema.
- Dá licença chefe.
- Claro M, entre.
- Então. Tá na minha hora, posso sair então?
- Claro querida, aproveite o feriado e boa viagem.
- Obrigada, na quarta-feira à tarde estou de volta. Pode deixar que cumpro horas extras pra compensar minha saída viu.
- Já conversamos M você tem crédito. Não precisa se preocupar vá com Deus e DIVIRTA-SE!
M se despede de Elaine com um beijo e uma visível felicidade no olhar, o que a deixa intrigada. Pra quem quase não fala dos pais ela até que está muito alegrinha. Pensa Elaine.
Desce com sua pequena valise e me encontra na esquina do prédio onde trabalha. Nos cumprimentamos com dois beijinhos no rosto e vamos para o estacionamento pegar meu carro. Abro o porta-malas e guardo sua valise em seguida abro a porta do carona para que ela entre. Estamos felizes e não escondemos isso. Dou a volta, entro, coloco meu cinto e dou a partida. Viro para ela que me olha. Seus olhos brilham, como no dia da tempestade.
- Vamos?
- Vamos.
Então pegamos a estrada.
No caminho meu celular toca, era o Leo, meu irmão. Toco meu bluetooth preso no meu ouvido.
- Pronto! Pausa. Fala Leo, tô na estrada já! Pausa. Porquê? Pausa. Ihh! Mas ele tá bem? Pausa. Tá certo, é melhor mesmo. Então tá, qualquer coisa me liga. Beijos. Desligo.
- Era seu irmão? Pergunta M.
- É, o filho dele tá com febre alta então eles acharam melhor não ir pra fazenda, aqui fica mais perto de assistências caso necessário.
- Quem mais vai ?
- Bom, agora só nós mesmo. Ele iria com a esposa e o filho mas com ele doente...
M volta a olhar a estrada pensativa. Sozinha com o Victor durante todos esses dias, num lugar distante? O que poderia acontecer? E eu então me dei conta do que estava acontecendo, será que o destino tava tramando algo? Iríamos sozinhos pra fazenda. Só nós dois, tudo bem que tinham os empregados, mas ficaríamos sozinhos na casa principal. O que poderia acontecer?
No caminho fizemos apenas duas paradas, uma para esticar um pouco as pernas e ir ao banheiro. Nessa primeira parada enquanto tomávamos um café...
- Eu queria te ajudar, mas infelizmente não sei dirigir.
- Nossa! Uma mulher desse tamanho, não sabe andar a cavalo, não sabe dirigir. Pelo menos andar de bicicleta você sabe? Posso providenciar umas rodinhas se for necessário. Brinquei.
- Ai que bobo, sei andar de bicicleta sim, viu. Ah! E sei fazer algo que com certeza você não sabe.
- Uhh! Fiquei curioso. O que é?
M soltou uma sonora gargalhada, um riso gostoso de se ouvir, contagiante.
- Sei cozinhar, aposto que você não sabe nem ferver água. Brincou.
- E quem disse que não sei cozinhar? Já morei sozinho e não tinha empregada não tá. Sei me virar muito bem viu mocinha. Faço uma omelete dos deuses, e meu miojo então...
- Para mim omelete é enganação, não comida e miojo, credo... pra mim é comida de cachorro. Prefiro meu macarrão a putanesca.
- Hum. Agora me deu vontade, então vou negociar com você. Eu te ensino a montar a cavalo e a dirigir em troca você faz esse seu macarrão sei lá o quê e aquele bolo de coco maravilhoso. Combinado?
- Combinado mas teremos que passar em algum mercado para comprar os ingredientes, você conhece algum que fique no caminho?
- Conheço sim, fica próximo da fazenda, daqui a uma hora mais ou menos. Paramos lá então e compramos tudo que for necessário.
Voltamos para o carro, rindo e brincando. Em perfeita sintonia. Então, estrada novamente.
Ligo o rádio, mas na estrada não consigo sintonizar nenhuma estação direito. Resolvo colocar um cd. Gosto de ouvir música quando estou dirigindo, ajuda a passar o tempo mais rápido.
- M, abre o porta-luvas aí e escolhe um cd pra gente ouvir.
- Ah! Victor, escolhe você. Já te disse uma vez. Quem dirige é que impõe o estilo musical.  Bom gosto eu sei que tem.
- Não se preocupe com o estilo, tudo que tem aí eu gosto. Escolhe qualquer um tá bom. Só pra ajudar a distrair e a passar o tempo mais rápido. Eu tô dirigindo e não posso tirar as mãos do volante senão... brinco fazendo um zigue-zague rápido no carro.
- Pára Victor. Me repreende M assustada.
- Desculpa, foi só brincadeira. Disse rindo. Mas escolhe aí vai, sério.
- Tá bom, tá bom. Mas não faz mais isso, tenho medo. Meus pais morreram em um acidente de carro. Não gosto nem de lembrar. Disse já abrindo o porta-luvas e escolhendo um cd.
- Nossa! Desculpa mesmo. Eu sinto muito. Falei sério. Então ela escolhe um.
- Que cd é esse? Mostra para mim.
Olho o cd e me surpreendo.
- Nossa! Ele tava aqui então! Esse cd eu gravei com algumas músicas que gosto de cantarolar de vez em quando, tem de um tudo aí. Vários artistas que admiro.
- Legal! Então vai ser esse. Quero ver o que você gosta de cantarolar fora do serviço. Disse rindo e colocando o cd no player...

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