M deixou sua pequena
valise no canto perto da parede, junto a sua mesa. Elaine, que durante o resto
da semana se fez de morta ao ver sua mala veio a sua mesa.
- Vai viajar?
- É vou. Vou para BH
ver meus pais. Aproveitar o feriadão, sabe como é. Mentiu. Se Elaine mentia pra
ela podia perfeitamente mentir também. Pra se preservar somente, não pra obter
vantagens. Não gostava dessas atitudes.
- E o Tuca? Voltou a
te procurar? Sondou.
- Não, graças a
Deus. E sinceramente espero que não venha. Depois do que ele fez. Não quero
vê-lo nem pintado de ouro.
O idiota não cumpriu
com o combinado. E agora ela vai viajar, droga, teria que dar um ultimato
naquele viciadinho. O jeito era esperar que ela voltasse de viagem. Pelo menos
não estaria perto do Victor. Pensou Elaine. No horário combinado passo no
trabalho de M para busca-la. Paro o carro num estacionamento perto e ligo pra
ela. O celular de M toca. Ela olha no visor e abre o maior sorriso.
- Oi. Você já vem?
- Já estou aqui em
baixo. Vai demorar?
- Não já estou
descendo. Beijos.
- Outro.
Desligo o telefone,
meu coração está aos pulos, não entendo por que mas sinto uma enorme alegria
nessa viagem. M passa na sala do chefe e bate na porta que estava aberta.
Elaine estava lá com ele resolvendo pendências e não ouviu a conversa do
telefonema.
- Dá licença chefe.
- Claro M, entre.
- Então. Tá na minha
hora, posso sair então?
- Claro querida,
aproveite o feriado e boa viagem.
- Obrigada, na
quarta-feira à tarde estou de volta. Pode deixar que cumpro horas extras pra
compensar minha saída viu.
- Já conversamos M você tem crédito. Não precisa
se preocupar vá com Deus e DIVIRTA-SE!
M se despede de
Elaine com um beijo e uma visível felicidade no olhar, o que a deixa intrigada.
Pra quem quase não fala dos pais ela até que está muito alegrinha. Pensa
Elaine.
Desce com sua
pequena valise e me encontra na esquina do prédio onde trabalha. Nos
cumprimentamos com dois beijinhos no rosto e vamos para o estacionamento pegar
meu carro. Abro o porta-malas e guardo sua valise em seguida abro a porta do
carona para que ela entre. Estamos felizes e não escondemos isso. Dou a volta,
entro, coloco meu cinto e dou a partida. Viro para ela que me olha. Seus olhos
brilham, como no dia da tempestade.
- Vamos?
- Vamos.
Então pegamos a
estrada.
No caminho meu celular toca, era o Leo, meu
irmão. Toco meu bluetooth preso no meu ouvido.
- Pronto! Pausa.
Fala Leo, tô na estrada já! Pausa. Porquê? Pausa. Ihh! Mas ele tá bem? Pausa.
Tá certo, é melhor mesmo. Então tá, qualquer coisa me liga. Beijos. Desligo.
- Era seu irmão?
Pergunta M.
- É, o filho dele tá
com febre alta então eles acharam melhor não ir pra fazenda, aqui fica mais
perto de assistências caso necessário.
- Quem mais vai ?
- Bom, agora só nós
mesmo. Ele iria com a esposa e o filho mas com ele doente...
M volta a olhar a
estrada pensativa. Sozinha com o Victor durante todos esses dias, num lugar
distante? O que poderia acontecer? E eu então me dei conta do que estava
acontecendo, será que o destino tava tramando algo? Iríamos sozinhos pra
fazenda. Só nós dois, tudo bem que tinham os empregados, mas ficaríamos
sozinhos na casa principal. O que poderia acontecer?
No caminho fizemos
apenas duas paradas, uma para esticar um pouco as pernas e ir ao banheiro.
Nessa primeira parada enquanto tomávamos um café...
- Eu queria te
ajudar, mas infelizmente não sei dirigir.
- Nossa! Uma mulher
desse tamanho, não sabe andar a cavalo, não sabe dirigir. Pelo menos andar de
bicicleta você sabe? Posso providenciar umas rodinhas se for necessário.
Brinquei.
- Ai que bobo, sei
andar de bicicleta sim, viu. Ah! E sei fazer algo que com certeza você não
sabe.
- Uhh! Fiquei
curioso. O que é?
M soltou uma sonora
gargalhada, um riso gostoso de se ouvir, contagiante.
- Sei cozinhar,
aposto que você não sabe nem ferver água. Brincou.
- E quem disse que
não sei cozinhar? Já morei sozinho e não tinha empregada não tá. Sei me virar
muito bem viu mocinha. Faço uma omelete dos deuses, e meu miojo então...
- Para mim omelete é
enganação, não comida e miojo, credo... pra mim é comida de cachorro. Prefiro
meu macarrão a putanesca.
- Hum. Agora me deu
vontade, então vou negociar com você. Eu te ensino a montar a cavalo e a
dirigir em troca você faz esse seu macarrão sei lá o quê e aquele bolo de coco
maravilhoso. Combinado?
- Combinado mas
teremos que passar em algum mercado para comprar os ingredientes, você conhece
algum que fique no caminho?
- Conheço sim, fica
próximo da fazenda, daqui a uma hora mais ou menos. Paramos lá então e
compramos tudo que for necessário.
Voltamos para o
carro, rindo e brincando. Em perfeita sintonia. Então, estrada novamente.
Ligo o rádio, mas na
estrada não consigo sintonizar nenhuma estação direito. Resolvo colocar um cd.
Gosto de ouvir música quando estou dirigindo, ajuda a passar o tempo mais
rápido.
- M, abre o
porta-luvas aí e escolhe um cd pra gente ouvir.
- Ah! Victor,
escolhe você. Já te disse uma vez. Quem dirige é que impõe o estilo
musical. Bom gosto eu sei que tem.
- Não se preocupe com o estilo, tudo que tem aí eu gosto.
Escolhe qualquer um tá bom. Só pra ajudar a distrair e a passar o tempo mais
rápido. Eu tô dirigindo e não posso tirar as mãos do volante senão... brinco
fazendo um zigue-zague rápido no carro.
- Pára Victor. Me
repreende M assustada.
- Desculpa, foi só
brincadeira. Disse rindo. Mas escolhe aí vai, sério.
- Tá bom, tá bom.
Mas não faz mais isso, tenho medo. Meus pais morreram em um acidente de carro.
Não gosto nem de lembrar. Disse já abrindo o porta-luvas e escolhendo um cd.
- Nossa! Desculpa
mesmo. Eu sinto muito. Falei sério. Então ela escolhe um.
- Que cd é esse?
Mostra para mim.
Olho o cd e me
surpreendo.
- Nossa! Ele tava
aqui então! Esse cd eu gravei com algumas músicas que gosto de cantarolar de
vez em quando, tem de um tudo aí. Vários artistas que admiro.
- Legal! Então vai
ser esse. Quero ver o que você gosta de cantarolar fora do serviço. Disse rindo
e colocando o cd no player...
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