Fizemos o caminho de
forma descontraída e divertida. Estar com M era muito bom. Sua conversa, seu
bom humor e principalmente a sua vontade de encarar tudo o que eu propunha a
fazia uma companhia mais que agradável, perfeita eu diria. Chegamos a beira do
rio. Encosto a charrete em baixo de uma árvore de sombra larga, M me ajuda com
as coisas e vamos até a beira do rio. Um local onde não tinha correnteza pois
as pedras meio que faziam um lago. Estiquei a toalha em baixo de outra árvore,
pequena e de aconchegante sombra. Separei os equipamentos de pesca e levei para
junto da beira do rio. M pegou as cadeiras e abriu para nós. Ela se senta em
uma, puxo a outra para perto dela e começo a montar tudo. M curiosa me pergunta
sobre cada coisa que preparo. Molinetes, linhas, pesos. Quando abro a lata de
banha e pego um mussum ela logo reclama.
- Eca! O que é isso?
- Mussum. Não
conhece? É uma ótima isca pra peixe.
- Que nojo, parece
uma minhoca gigante. Diz fazendo cara de nojo.
Com habilidade
prendo o mussum no anzol e faço menção de que pegue o equipamento.
- Toma. Essa é a
sua.
M fica me olhando
incrédula.
- Você quer que eu
segure isso? De jeito nenhum. Que coisa mais nojenta Victor.
Não me contenho e
começo a rir.
- Deixa de ser
fresca. Segura aqui ó.
Pego sua mão e
entrego o equipamento pra ela. Ela fica ali, paralisada, cheia de receios do
que fazer com a vara com a isca. Viro para o lado e começo a montar o outro
equipamento. Iremos pescar juntos. Olho para M que continua na mesma posição.
Não me seguro e caio na gargalhada.
- Tá legal! Me dá
isso aqui. Pego o equipamento de sua mão. Vem cá. Levanto e vou para a beira do
rio.
- Sente só. Fecho os
olhos e sinto a brisa bater em meu rosto.
M olha pra mim e me
imita. Mas não entende o que estou fazendo.
- Não tô sentindo
nada só o vento no rosto. Responde.
- É isso mesmo. Vê
se consegue sentir de onde vem e para onde vai.
Então M começa a
rir. Provavelmente pensou besteira.
- O que foi?
- Nada. Disse rindo.
- Já vi que vai ser
pior que montar cavalo.
- Não. Não. Vai. Me
ensina. Quero aprender. Diz tentando parecer séria mas mal conseguindo
disfarçar.
Explico mais algumas
coisas como a correnteza, como prender a linha e quando soltá-la. Coisas
pequenas mas primordiais para uma boa pescaria. Lanço o anzol com a isca na
água então entrego o equipamento para ela.
- Toma. Agora segura
firme, vou montar o outro equipamento e já volto.
M ficou ali, em pé
na beira do rio, rindo sozinha. Sentia-se ridícula, mas estava se divertindo
com tudo. Logo assim que arrumei o outro equipamento fui até ela.
- Toma sua cadeira.
Agora é ficar aí sentadinha e esperando o peixe vir fisgar a isca. Se você
sentir um puxão na linha me chama. Vou ficar mais ali pra frente. Qualquer
coisa me chama. Disse isso e coloquei um suporte no chão para que ela colocasse
a vara presa. Peguei minhas coisas e minha cadeira e me afastei certa de 10
metros dela. Fiz o mesmo ritual e lancei minha isca ao rio. Depois de alguns
minutos...
- Victor!
- Oi!
- E agora?
- A linha tá
puxando?
- Não. Ainda não.
Mas e o que faço agora?
- Espera uai! Ri.
- Eu trouxe um
livro. Posso ir pegá-lo?
- Não! Você tem que
ficar aí quietinha. E se a linha puxar você me chama.
Passou mais uns 30
min. Eu estava concentrado no rio, percebendo a natureza se expressar.
- Victor!
Comecei a rir novamente.