segunda-feira, 31 de outubro de 2011


Fizemos o caminho de forma descontraída e divertida. Estar com M era muito bom. Sua conversa, seu bom humor e principalmente a sua vontade de encarar tudo o que eu propunha a fazia uma companhia mais que agradável, perfeita eu diria. Chegamos a beira do rio. Encosto a charrete em baixo de uma árvore de sombra larga, M me ajuda com as coisas e vamos até a beira do rio. Um local onde não tinha correnteza pois as pedras meio que faziam um lago. Estiquei a toalha em baixo de outra árvore, pequena e de aconchegante sombra. Separei os equipamentos de pesca e levei para junto da beira do rio. M pegou as cadeiras e abriu para nós. Ela se senta em uma, puxo a outra para perto dela e começo a montar tudo. M curiosa me pergunta sobre cada coisa que preparo. Molinetes, linhas, pesos. Quando abro a lata de banha e pego um mussum ela logo reclama.
- Eca! O que é isso?
- Mussum. Não conhece? É uma ótima isca pra peixe.
- Que nojo, parece uma minhoca gigante. Diz fazendo cara de nojo.
Com habilidade prendo o mussum no anzol e faço menção de que pegue o equipamento.
- Toma. Essa é a sua.
M fica me olhando incrédula.
- Você quer que eu segure isso? De jeito nenhum. Que coisa mais nojenta Victor.
Não me contenho e começo a rir.
- Deixa de ser fresca. Segura aqui ó.
Pego sua mão e entrego o equipamento pra ela. Ela fica ali, paralisada, cheia de receios do que fazer com a vara com a isca. Viro para o lado e começo a montar o outro equipamento. Iremos pescar juntos. Olho para M que continua na mesma posição. Não me seguro e caio na gargalhada.
- Tá legal! Me dá isso aqui. Pego o equipamento de sua mão. Vem cá. Levanto e vou para a beira do rio.
- Sente só. Fecho os olhos e sinto a brisa bater em meu rosto.
M olha pra mim e me imita. Mas não entende o que estou fazendo.
- Não tô sentindo nada só o vento no rosto. Responde.
- É isso mesmo. Vê se consegue sentir de onde vem e para onde vai.
Então M começa a rir. Provavelmente pensou besteira.
- O que foi?
- Nada. Disse rindo.
- Já vi que vai ser pior que montar cavalo.
- Não. Não. Vai. Me ensina. Quero aprender. Diz tentando parecer séria mas mal conseguindo disfarçar.
Explico mais algumas coisas como a correnteza, como prender a linha e quando soltá-la. Coisas pequenas mas primordiais para uma boa pescaria. Lanço o anzol com a isca na água então entrego o equipamento para ela.
- Toma. Agora segura firme, vou montar o outro equipamento e já volto.
M ficou ali, em pé na beira do rio, rindo sozinha. Sentia-se ridícula, mas estava se divertindo com tudo. Logo assim que arrumei o outro equipamento fui até ela.
- Toma sua cadeira. Agora é ficar aí sentadinha e esperando o peixe vir fisgar a isca. Se você sentir um puxão na linha me chama. Vou ficar mais ali pra frente. Qualquer coisa me chama. Disse isso e coloquei um suporte no chão para que ela colocasse a vara presa. Peguei minhas coisas e minha cadeira e me afastei certa de 10 metros dela. Fiz o mesmo ritual e lancei minha isca ao rio. Depois de alguns minutos...
- Victor!
- Oi!
- E agora?
- A linha tá puxando?
- Não. Ainda não. Mas e o que faço agora?
- Espera uai! Ri.
- Eu trouxe um livro. Posso ir pegá-lo?
- Não! Você tem que ficar aí quietinha. E se a linha puxar você me chama.
Passou mais uns 30 min. Eu estava concentrado no rio, percebendo a natureza se expressar.
- Victor!
Comecei a rir novamente.

domingo, 30 de outubro de 2011


De repente D. Mirtes aparece na varanda.
- Patrão. O lanche tá na mesa.
Tomo um susto afinal não percebi a hora passar.
- Oi D. Mirtes. Obrigado. Vou só tomar uma ducha e já volto então. E M?
- Terminando de fazer o bolo.
- Tá certo!
Levantei da rede, juntei minhas coisas e fui para o meu quarto tomar uma ducha. Passei pela porta da cozinha e vi M entretida com o bolo. Não resisti e provoquei.
- Ih! Já vi que hoje não tem bolo. Tá me enrolando é M? Brinquei.
Ela fez uma careta e mostrou a língua pra mim.
- Pra hoje não dá mesmo. Será pro café da manhã. Tem que ir pra geladeira esqueceu é?
- Tá certo. Ah! Não precisa mostrar a língua não tá. Eu sei que você tem uma.
Brinquei novamente. Arrancando mais uma das suas deliciosas risadas. Fui para o quarto e tomei um banho relaxante. No corredor encontrei M que disse que também iria tomar um banho.
- Então vou te esperar, não demora tá. Tô com fome.
- Ô Victor. Se você tá com fome, vai lá. Não precisa me esperar não.
- Tô brincando sua boba. Mas não demora tá?
Ela riu e concordou com a cabeça entrando em seguida no quarto de hóspedes. Fiquei ali na sala conversando com D. Mirtes. Depois de um tempo M aparece. Cabelos molhados, vestindo um moletom rosa. Sentou-se comigo a mesa para lanchar. D. Mirtes pediu licença e foi para a cozinha providenciar algumas coisas que pedi.
- Amanhã vamos pescar tá!
- Naquele lago que você mostrou?
- Não. Tem um rio aqui perto. Vamos de charrete. É passeio pro dia todo tá.
M concordou e fechamos o dia assim, conversando, ouvindo muita música e as estórias de pescador que eu e o Ferreira contávamos.
No dia seguinte levantamos cedo. M já estava na mesa conversando com D. Mirtes quando cheguei na sala.
- Bom dia! Pelo visto já pegou o ritmo da fazenda. Levantando com as galinhas né!
- Bom dia! É acho que peguei sim, aqui é tudo tão tranqüilo e calmo. Durmo feito uma pedra e acordo com os passarinhos cantando na janela. Tô adorando isso aqui. Por mim não iria embora nunca mais.
- Não me dá idéia não M. Não me dá idéia. Brinquei.
Tomamos nosso café, e como prometido tinha o bolo de coco da M. Delicioso. Fiquei fã também. Terminamos nosso café e fui me encaminhando pra cozinha.
- D. Mirtes, providenciou o que pedi?
- Sim patrão. Tá tudo aqui. Mostrou uma cesta de palha grande.
- E a toalha?
- Tá separada aqui ó. Coloquei as bebidas no isopor como o senhor pediu.
- Tá ótimo. E a charrete? O Ferreira preparou?
- Ele já deve tá vindo patrão.
- Nossa! Pra que isso tudo? Não vamos pescar? Pergunta M entrando na cozinha.
- Ih! Minha filha, pescaria com o Seu Victor é assim, passeio pro dia todo. Vocês vão pescar no lago ou no rio patrão?
- No rio D. Mirtes, sinto que hoje trago um dos grandes. Brinquei.
- M acho melhor você levar seu biquíni e protetor solar também. Você vai adorar tomar um banho no rio. A água é geladinha mas deliciosa. Aconselhou D. Mirtes.
- Ah! Mas um repelente também não vai mal não viu. Lembrei.
- Então vou me trocar. Licença. Se despede M.
Logo em seguida entra Ferreira.
- Patrão. A charrete tá pronta. O material da pescaria já está lá. Arrumei alguns mussuns pra servir de isca tá. Estão numa lata de banha.
Fui para meu quarto, me arrumei e voltei com o violão nas costas. M já estava na varanda, conversava com D. Mirtes e o Ferreira.
- Vamos a pesca? Convidei.
- Vamos sim.
A charrete estava na porta nos esperando. Acomodei o violão na parte de trás junto com as coisas e ajudei M a subir. Subi logo em seguida dando uma leve sacudida nas rédeas o que fez com que o cavalo começasse a andar.

sábado, 29 de outubro de 2011

Chegamos na casa principal e Ferreira veio nos receber. Segurou as rédeas do cavalo enquanto que eu depois de descer ajudei M. Entramos pela cozinha, brincando e fazendo palhaçadas, atraídos pelo cheiro da comida de D. Mirtes. Peguei uma garrafa de água da geladeira e servi dois copos. Um para mim, outro para M.
- Então filha como foi o passeio? Aprendeu a andar a cavalo? Perguntou D. Mirtes junto ao fogão, mexendo uma panela de barro.
- Essa aí nasceu uma amazona D. Mirtes. Ela tava era escondendo o jogo. Brinquei.
- Exagerado! O passeio foi ótimo, Tia. Aqui é tudo lindo e grande também. Quanto a aprender a andar a cavalo... olhou para mim rindo, como me fazia bem ver sua felicidade. Bom, meu professor não é dos piores não. Brincou.
- Ah! É assim é! Pode deixar, amanhã vou te ensinar a pescar. Você sabe nadar M?
Todos rimos. Almoçamos num clima super harmonioso. Depois do almoço M foi para a varanda. Sentou numa rede e ficou ali, balançando e com o pensamento longe. Peguei meu violão e fui ao seu encontro. Sentei de frente para ela, na mesma rede.
- Música?
- Show particular é?
- Não acostuma não tá!
Ela riu.
- Quer ouvir alguma coisa em especial?
Ela parou ficou um pouco pensativa, recostou na rede e com um olhar doce e encantador pediu.
- Você conhece casinha branca? Meu pai costumava cantar para mim quando não conseguia dormir.
Consenti com a cabeça e comecei a dedilhar.


Quando terminei notei seus olhos marejados.
- Ah não! Não é pra ficar triste. Já falei viemos aqui pra nos divertir.
- Não é tristeza, é saudade. Só.
Fiz um carinho em sua perna e ela me sorriu. Nunca me senti tão em paz como naqueles dias. Continuamos a cantoria, até o meio da tarde então M se levanta da rede.
- Bom agora se o senhor me der licença. Tenho um bolo pra fazer. Afinal acordo é acordo.
- É verdade! Sorri para ela.
Ela se foi em direção a cozinha enquanto que eu fiquei mais um pouco ali, entretido com a paisagem. Senti uma vontade de compor então me levantei, fui ao meu quarto e peguei minha pasta, a mesma que sempre carrego comigo, com meu caderno e caneta. Voltei a sentar na rede com o violão, abri o caderno na minha frente e comecei a dedilhar algo novo. Logo fui tomado pela sensação de inspiração e então a magia acontece. Minha mão se torna ágil, como se tivesse vida própria. Num breve instante saio de mim e me deixo levar. É a minha alma que se faz valer de sua vontade. Escrevo não uma, nem duas mas três canções novas. Todas com cifras. Fico impressionado comigo mesmo. Quando acaba a inspiração olho para o caderno, leio tudo e fico feliz. Incrivelmente perfeito.
De repente D. Mirtes aparece na varanda.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011


- Peraí. Vou montar com você.
Subi rapidamente e sentei atrás dela segurando as rédeas do animal com meus braços entre sua cintura. Senti um frio na espinha, podia sentir seu perfume, seus cabelos sedosos em meu rosto. Tive que me controlar para que ela não percebesse que fiquei perturbado por estarmos tão próximos.
Dei um leve toque no animal que começou a andar. M estava tensa, paralisada. Aos poucos ela foi relaxando e acostumando a montar no animal. Fomos andando pela fazenda como era um animal forte ele agüentou o peso de nós dois. Fui mostrando tudo a ela que conforme íamos andando foi se descontraindo. Mostrei os estábulos, onde ficavam os bois, o lago onde costumo pescar. A arena que o Leo usa para treinar, as plantações. Todas as instalações da fazenda. Foi um passeio tranqüilo e prazeroso.
- Nossa! Isso aqui é enorme. Exclamou.
- É nada. Existem fazendas maiores que essa. Terras a perder de vista.
M então se lembra, seu pai tem uma, no interior de Goiás achava. Lembra que certa vez, num dos muitos almoços que dava na mansão ele se gabava com um amigo. Dizia que tinha 15000 cabeças de gado e que seu filho Marcio tocaria tudo quando fosse a hora. Ele adorava o filho e depois de seu nascimento tinha se esquecido completamente da existência de M.
Numa das estradas que cortam a fazenda resolvo inovar.
- Bom agora que você já aprendeu que montar um cavalo não é nenhum bicho papão, toma. Conduza o animal. Disse entregando as rédeas para M.
- Faz isso não Victor. Respondeu com medo.
- Não senhora, eu quero o meu bolo então você tem que aprender. Vai.
- Eu faço o bolo pra você mas não faz isso não!
Eu só ria. Cruzei os braços e não peguei as rédeas novamente. Ela no inicio ficou reticente mas como o animal já estava no ritmo não tivemos nenhuma surpresa. M aos poucos pegou o jeito e continuamos o nosso divertido passeio.
- Victor. Chamou M.
- Diga.
- Você esqueceu me ensinar uma coisa. Disse me mostrando o final da estrada.
- E o que foi que eu esqueci. Disse já rindo.
- Como fazer a curva. A estrada tá acabando, vê só. Disse apontando com a cabeça o final da estrada de terra dando de frente para o curral.
- Dá a seta oras. Brinquei.
M caiu na gargalhada.
- A lâmpada tá queimada, você não notou não? Brincou também.
Estávamos em completa sintonia. Então peguei as rédeas junto com ela e dei um leve puxão no lado esquerdo fazendo com que o animal se virasse para o mesmo lado retornando o caminho que tínhamos feito. Voltamos para a casa principal pois a manhã tinha passado voando e já estava na hora do almoço.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011


Levanto da mesa e puxo a cadeira para que M se sente. Conversamos animadamente, também com tanta coisa gostosa na mesa, não podia ser diferente. Ficamos até tarde conversando, D. Mirtes e o Ferreira sentaram conosco e colocaram o papo em dia com M. Nos recolhemos cedo pois na fazenda para se aproveitar bem teríamos que levantar bem cedinho. Era muita coisa pra fazer. Banho de rio, passeios de charrete, pescaria, ver os filhotes que nasceram, e ainda iria ensinar M a montar. Na manhã seguinte levantei “com as galinhas”. Tomei meu café e fui ao estábulo pedir para selar dois cavalos, o meu de costume e um bem mansinho pra M começar a montar. M levantou cedo também, estava acostumada a acordar cedo. Ela foi até a cozinha, conversou um pouco com D. Mirtes e lhe explicou que não tinha dito nada sobre seus pais verdadeiros muito menos sobre ser fã do Victor & Leo. D. Mirtes a repreendeu.
- Filha, acho melhor você contar tudo. Afinal você não tá fazendo nada de errado. Mentiras nunca sustentaram nada nessa vida pelo contrário podem destruir tudo num piscar de olhos. Se você quer construir qualquer coisa com o patrão. Amizade, amor, não importa, o importante é que seja em cima da verdade. Seja ela qual for. Seu Victor é um homem de bem, justo, de família e com princípios. Não tenha medo da verdade, se você for sincera e honesta sei que ele ira te compreender e te apoiar no que você precisar.
Sabias palavras da D. Mirtes, sentia saudades de conversar sobre sua vida. Desde que seus pais postiços faleceram M tinha se fechado para o mundo. Falava muito pouco sobre seu passado, suas angustias e medos. Foi para a mesa pensativa e decidiu, iria aproveitar a tranqüilidade da fazenda e se abrir comigo. Contar tudo, absolutamente tudo. Sentiu-se segura, depois de muitos anos.
M termina seu café e volta a cozinha. Ferreira tá tomando um café então ela pergunta:
- Bom Dia Tio! Cadê o Victor?
- Bom Dia M! Tá lá fora, filha, te esperando pra montar.
- Meu Deus! Seja o que Deus quiser. Disse rindo.
M saiu da casa e foi me procurar, logo me encontra. Eu estava terminando de conferir as selas quando a vi vindo em minha direção. Abri meu melhor sorriso.
- Bom Dia! Dormiu bem?
- Bom Dia! Dormi sim, obrigada, o silêncio ajudou a pegar no sono logo. Como é silencioso aqui.
- É sim. Bom pra descansar da correria da cidade. E aí? Pronta pra montar?
- Tem certeza que você quer fazer isso? Poderíamos caminhar um pouco. Diz tentando me convencer a desistir.
- Nem vem que não tem. Eu quero o bolo então você tem que aprender a montar. Onde já se viu, vir a uma fazenda e não andar a cavalo. Vem, esse é bem mansinho. Disse já mostrando seu cavalo.
Ela veio em minha direção, meio ressabiada.
- Tá. Mas me responde duas coisas antes.
- O que? Fiquei preocupado.
- Onde fica o freio e cadê o manual de instruções desse bicho aí. Brincou.
Eu não me contive e cai na gargalhada. Seu bom humor era contagiante.
- Lamento informar mas o freio tá gasto e o manual só em cavalês. Você sabe ler cavalês? Brinquei também. Arrancando mais gargalhadas dela. Ela veio para junto de mim. Séria.
- Fica tranqüila ele é mansinho, passa mão aqui ó. Ele gosta.
Segurei sua mão e levei ao pescoço do animal deslizando-a pelo seu pelo. Então segurei as rédeas e mostrei como ela deveria subir no animal. Ela teve dificuldades então entreguei as rédeas ao peão que estava conosco e lhe mostrei.
- M você pisa aqui com seu pé esquerdo, segura aqui na sela com as mãos e dá um impulso levando a perna direita por cima do animal.
- Calma, não sou loira mas é complicado pra mim. Brincou novamente. Era visível sua felicidade.
Ela subiu com uma certa dificuldade, segurei-a pelos quadris ajudando no seu impulso. Quando sentou na sela ficou apavorada.
- Ai Victor! É muito alto. Tô com medo. Se caio daqui me machuco toda.
- Calma! Você tem que ficar calma que não cai não.
- E se ele me derrubar, aí não quero fazer isso não. Tô com medo.
- Calma. Você não vai cair e ele não vai te derrubar não. É bem mansinho. Não fica com medo. O animal percebe isso. Avisei, mas foi pior, M entrou em pânico.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011


Começo a cantar, acompanhando a letra e quando olho para o lado M também tá cantando. Ela conhece as músicas e vamos assim, numa alegre cantoria pela estrada afora. Divertindo-nos. Quando chegamos ao mercado, estaciono o carro e saltamos. Pego um carrinho e sigo M que vai passando entre as fileiras escolhendo os ingredientes para fazer o tal macarrão e o bolo. Ela vai para a fila dos frios então eu digo:
- Vou escolher um vinho pra acompanhar seu macarrão tá bom?
- Tá, mas terá que ser tinto. Massa, sabe como é.
Concordo com a cabeça e sigo com o carrinho para a seção de bebidas enquanto ela fica na fila de frios. Num certo momento uma senhorinha vem até mim e bate levemente em meu braço.
- Moço!
- Senhora? Penso ser alguma fã a pedir um autógrafo ou foto.
- Sua esposa tá lhe chamando.
- Esposa?
Então ela aponta para M que está na fila olhando em nossa direção. Ao ver que estou olhando para ela M faz sinal para que fosse até ela. Agradeço a senhorinha e vou ao seu encontro. Esposa. Ri. Depois de escolher os ingredientes continuamos a escolher outras coisas. Supérfluos pra beliscar. Terminada a compra, vamos para o caixa.
- Deixa que eu pago. Antecipei-me. Imagina, convidada minha pagar alguma coisa. Até por que quem vai pra cozinha é você. Brinquei.
- Tá certo. Eu cozinho mas você lava a louça. Rebateu.
Colocamos tudo no carro e voltamos para a estrada, faltava pouco, em menos de uma hora chegamos a fazenda. O fim de tarde a luz do crepúsculo faz com que a vista da fazenda se torne linda, misteriosa mas aconchegante. Chegamos.
Desço do carro, M também. Logo D. Mirtes vem ao nosso encontro e então a surpresa. M a conhece.
- Boa Noite patrão. Seu Leo ligou cedo dizendo que o senhor tava vindo. M? M minha filha é você mesmo? Diz espantada olhando para M.
Fico sem entender então M olha para D. Mirtes e responde.
- Tia Mirtes! Que surpresa! A senhora tá morando aqui?
Elas se abraçam, visivelmente emocionada M se vira para mim e explica.
- Victor, essa é a irmã da minha mãezinha querida. Não é muita coincidência? Vim com você passar alguns dias e encontro com a Tia Mirtes.
Eu sorrio pois vejo a alegria de M em rever a tia.
- Mundo pequeno né!
Pego nossas bagagens e Ferreira vem me ajudar. Quando ele vê M aquela alegria que M estava sentindo se dobra. Ferreira é o administrador da fazenda do meu irmão, e marido de D. Mirtes.
- Menina! Que surpresa boa, veio nos visitar foi?
- Não Tio. Não sabia que vocês estavam morando aqui. Vim com o Victor passar o feriado. Moramos no mesmo prédio.
- Nossa! Que ótimo. Vejo que você está bem. Não nos vemos desde quando? Acho que a última vez foi no enterro da Maria e do Antonio não é?
- É Tio. É. M abaixa a cabeça e se entristece. Percebo o quanto essa estória ainda mexe com ela.
- Ok! Mas nós viemos aqui pra nos divertir, nada de tristezas, só alegrias, viu. Ferreira que tipo de tio é você que nunca ensinou sua sobrinha a cavalgar? Essa mocinha aí nunca viu nem boi nem cavalo na vida. Acho que galinha pra ela só a do supermercado. Começo a brincar pra ver se o clima pesado vai embora.
- Pois é patrão. Falha grave a minha. Disse Ferreira já pegando as malas.
Entramos na casa principal. M abraçada a D. Mirtes. E eu com as sacolas de compras fui conversando com Ferreira, me inteirando das coisas da fazenda.
Na sala de jantar uma farta mesa está pronta, D. Mirtes é uma excelente cozinheira e preparou um belo lanche para nós.
- Ferreira, por favor leve a mala da M pro quarto de hospedes. Nossa D. Mirtes a senhora caprichou hein! Olhei a mesa posta.
- Gostou patrão? Fiz tudo o que o senhor gosta, se soubesse que era você a visita M teria feito aquele bolo de coco que você adora.
- Ah! D. Mirtes, não se preocupe com o bolo não. A M fez um trato comigo e ela vai fazer. Disse piscando o olho pra M que era só sorrisos, estava feliz em estar ali. E eu também.
- Trato? Que trato?
- Ah Tia! O Victor ficou de me ensinar a montar e a dirigir em troca vou fazer o bolo de coco e aquele macarrão com anchova, lembra?
- Aquele que você aprendeu em São Paulo?
- É esse mesmo. Macarrão a putanesca.
- É D. Mirtes. O nome não ajuda muito mas espero que seja tão gostoso quanto o bolo. Brinquei. Todos rimos.
- Então filha, vai tomar um banho e venha lanchar com o patrão. Disse D. Mirtes.
- Vem, vou mostrar seu quarto. Aqui somos todos uma grande família. Sem luxos.
Disse pegando M pela mão e levando-a para o interior da casa. Mostrei os outros cômodos e quando chegamos ao seu quarto mostrei que o banheiro ficava quase em frente. Que ela ficasse a vontade, como se estivesse na sua própria casa. Ela consentiu e entrou, nos despedimos e fui para o meu que ficava no final do corredor. Retirei as coisas da mala e guardei no armário. Não trouxe muita coisa, já tinha deixado algumas peças de roupa por lá. Assim sempre que possível podia dar a escapada para a fazenda sem me preocupar com bagagem. Meu quarto era uma suíte. Entrei no banheiro e fui tirar a poeira da estrada. Depois volto para a sala e logo M chega. Linda. Calça jeans, camiseta básica branca e um casacão de listras.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

 Ouça a seleção musical e viaje com nossos "heróis" ...



























M deixou sua pequena valise no canto perto da parede, junto a sua mesa. Elaine, que durante o resto da semana se fez de morta ao ver sua mala veio a sua mesa.
- Vai viajar?
- É vou. Vou para BH ver meus pais. Aproveitar o feriadão, sabe como é. Mentiu. Se Elaine mentia pra ela podia perfeitamente mentir também. Pra se preservar somente, não pra obter vantagens. Não gostava dessas atitudes.
- E o Tuca? Voltou a te procurar? Sondou.
- Não, graças a Deus. E sinceramente espero que não venha. Depois do que ele fez. Não quero vê-lo nem pintado de ouro.
O idiota não cumpriu com o combinado. E agora ela vai viajar, droga, teria que dar um ultimato naquele viciadinho. O jeito era esperar que ela voltasse de viagem. Pelo menos não estaria perto do Victor. Pensou Elaine. No horário combinado passo no trabalho de M para busca-la. Paro o carro num estacionamento perto e ligo pra ela. O celular de M toca. Ela olha no visor e abre o maior sorriso.
- Oi. Você já vem?
- Já estou aqui em baixo. Vai demorar?
- Não já estou descendo. Beijos.
- Outro.
Desligo o telefone, meu coração está aos pulos, não entendo por que mas sinto uma enorme alegria nessa viagem. M passa na sala do chefe e bate na porta que estava aberta. Elaine estava lá com ele resolvendo pendências e não ouviu a conversa do telefonema.
- Dá licença chefe.
- Claro M, entre.
- Então. Tá na minha hora, posso sair então?
- Claro querida, aproveite o feriado e boa viagem.
- Obrigada, na quarta-feira à tarde estou de volta. Pode deixar que cumpro horas extras pra compensar minha saída viu.
- Já conversamos M você tem crédito. Não precisa se preocupar vá com Deus e DIVIRTA-SE!
M se despede de Elaine com um beijo e uma visível felicidade no olhar, o que a deixa intrigada. Pra quem quase não fala dos pais ela até que está muito alegrinha. Pensa Elaine.
Desce com sua pequena valise e me encontra na esquina do prédio onde trabalha. Nos cumprimentamos com dois beijinhos no rosto e vamos para o estacionamento pegar meu carro. Abro o porta-malas e guardo sua valise em seguida abro a porta do carona para que ela entre. Estamos felizes e não escondemos isso. Dou a volta, entro, coloco meu cinto e dou a partida. Viro para ela que me olha. Seus olhos brilham, como no dia da tempestade.
- Vamos?
- Vamos.
Então pegamos a estrada.
No caminho meu celular toca, era o Leo, meu irmão. Toco meu bluetooth preso no meu ouvido.
- Pronto! Pausa. Fala Leo, tô na estrada já! Pausa. Porquê? Pausa. Ihh! Mas ele tá bem? Pausa. Tá certo, é melhor mesmo. Então tá, qualquer coisa me liga. Beijos. Desligo.
- Era seu irmão? Pergunta M.
- É, o filho dele tá com febre alta então eles acharam melhor não ir pra fazenda, aqui fica mais perto de assistências caso necessário.
- Quem mais vai ?
- Bom, agora só nós mesmo. Ele iria com a esposa e o filho mas com ele doente...
M volta a olhar a estrada pensativa. Sozinha com o Victor durante todos esses dias, num lugar distante? O que poderia acontecer? E eu então me dei conta do que estava acontecendo, será que o destino tava tramando algo? Iríamos sozinhos pra fazenda. Só nós dois, tudo bem que tinham os empregados, mas ficaríamos sozinhos na casa principal. O que poderia acontecer?
No caminho fizemos apenas duas paradas, uma para esticar um pouco as pernas e ir ao banheiro. Nessa primeira parada enquanto tomávamos um café...
- Eu queria te ajudar, mas infelizmente não sei dirigir.
- Nossa! Uma mulher desse tamanho, não sabe andar a cavalo, não sabe dirigir. Pelo menos andar de bicicleta você sabe? Posso providenciar umas rodinhas se for necessário. Brinquei.
- Ai que bobo, sei andar de bicicleta sim, viu. Ah! E sei fazer algo que com certeza você não sabe.
- Uhh! Fiquei curioso. O que é?
M soltou uma sonora gargalhada, um riso gostoso de se ouvir, contagiante.
- Sei cozinhar, aposto que você não sabe nem ferver água. Brincou.
- E quem disse que não sei cozinhar? Já morei sozinho e não tinha empregada não tá. Sei me virar muito bem viu mocinha. Faço uma omelete dos deuses, e meu miojo então...
- Para mim omelete é enganação, não comida e miojo, credo... pra mim é comida de cachorro. Prefiro meu macarrão a putanesca.
- Hum. Agora me deu vontade, então vou negociar com você. Eu te ensino a montar a cavalo e a dirigir em troca você faz esse seu macarrão sei lá o quê e aquele bolo de coco maravilhoso. Combinado?
- Combinado mas teremos que passar em algum mercado para comprar os ingredientes, você conhece algum que fique no caminho?
- Conheço sim, fica próximo da fazenda, daqui a uma hora mais ou menos. Paramos lá então e compramos tudo que for necessário.
Voltamos para o carro, rindo e brincando. Em perfeita sintonia. Então, estrada novamente.
Ligo o rádio, mas na estrada não consigo sintonizar nenhuma estação direito. Resolvo colocar um cd. Gosto de ouvir música quando estou dirigindo, ajuda a passar o tempo mais rápido.
- M, abre o porta-luvas aí e escolhe um cd pra gente ouvir.
- Ah! Victor, escolhe você. Já te disse uma vez. Quem dirige é que impõe o estilo musical.  Bom gosto eu sei que tem.
- Não se preocupe com o estilo, tudo que tem aí eu gosto. Escolhe qualquer um tá bom. Só pra ajudar a distrair e a passar o tempo mais rápido. Eu tô dirigindo e não posso tirar as mãos do volante senão... brinco fazendo um zigue-zague rápido no carro.
- Pára Victor. Me repreende M assustada.
- Desculpa, foi só brincadeira. Disse rindo. Mas escolhe aí vai, sério.
- Tá bom, tá bom. Mas não faz mais isso, tenho medo. Meus pais morreram em um acidente de carro. Não gosto nem de lembrar. Disse já abrindo o porta-luvas e escolhendo um cd.
- Nossa! Desculpa mesmo. Eu sinto muito. Falei sério. Então ela escolhe um.
- Que cd é esse? Mostra para mim.
Olho o cd e me surpreendo.
- Nossa! Ele tava aqui então! Esse cd eu gravei com algumas músicas que gosto de cantarolar de vez em quando, tem de um tudo aí. Vários artistas que admiro.
- Legal! Então vai ser esse. Quero ver o que você gosta de cantarolar fora do serviço. Disse rindo e colocando o cd no player...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011


No dia seguinte, M vai para a repartição trabalhar. Chega no horário de sempre. Quando vê Elaine chegar, lembra da conversa que tivemos na noite passada. Como ela pode mentir daquele jeito? Ela sabia que eu fiquei mexida com os beijos do Victor e mentiu pra mim para me afastar dele. Só pode. Vamos ver até onde ela pretende ir com essa estória. Vou dar corda pra ela se enforcar sozinha, isso sim. Pensou. Elaine coloca sua bolsa em sua mesa de trabalho e vai em direção a mesa de M toda sorridente.
- Oi! Mais calma hoje?
- Sim. Graças a você. Nem pude te agradecer direito, você foi dez amiga. Dez não mil!
- Que isso! Amigas são pra essas coisas não é!
Elaine tinha resolvido não falar nada sobre o Victor. Tuca iria aparecer em breve e retomaria o namoro com M. Pelo menos foi o combinado. Aí sim, votaria a atacar.
- Almoço? Convida Elaine.
- Claro. Sorri M.
Eu na mesma manhã fui a produtora, tínhamos reunião marcada pra ver os shows agendados, além de fecharmos alguns outros contratos e ainda em pauta a resolução das canções que iríamos colocar no próximo cd. Dia cheio me esperava. O dia passou voando mas tive uma boa notícia. Devido ao feriadão próximo não teríamos shows então combinei com meu irmão de irmos pra fazenda. Fazia dias que não pousávamos por lá. Ele é claro, se entusiasmou na hora. Seriam cinco dias de paz, tranqüilidade e dedicação exclusiva para a família. Preciso disso de vez em quando. Recarrega minhas energias. A noite, chegando em casa vejo M chegar do trabalho. Dou uma buzinada, Ela se vira e me sorri. Sorriso leve, tranqüilo. Entro, estaciono o carro e a encontro na porta do elevador, me esperando pra subirmos juntos. Fico feliz em ver que ela está bem. Tranqüila e calma.
- Oi. Cumprimento-a.
- Oi. Muitos shows agendados?
- O de sempre. Mas devido ao feriadão, por milagre, não teremos shows esses dias.
Assim que acabei de falar tive a idéia.
- E você, vai viajar no feriadão?
M retirou o sorriso do rosto. Não tinha pra onde ir nos feriados, nem nas datas festivas. Tinha se afastado da sua família biológica logo depois que seus pais substitutos faleceram. Pais substitutos era o termo que usava quando se referia a D. Maria a cozinheira e seu marido S. Antonio o motorista da mansão que seus pais moram em BH e que de fato lhe criaram, dando amor, educação e princípios morais.
- Não. Vou ficar por aqui mesmo. Respondeu se entristecendo.
- Gosta de fazenda?
- Num sei. Nunca fui em uma. Respondeu voltando a sorrir. Como era encantador seu sorriso.
- Nunca foi numa fazenda? Como? Mineira e não conhece galinha, porco, cavalo, boi ... Brinquei.
- Pra você ver. Sou uma pessoa totalmente urbana. Concreto de verdade. Brincou também.
- Quer ir comigo pra fazenda? Vou na sexta e só volto na quarta pela manhã. Quer?
- Fazenda? Você tem fazenda? Tentou despistar, eu ainda não sabia que ela era fã da dupla e não queria que descobrisse de uma forma distorcida essa informação.
- Na verdade a fazenda é do meu irmão. Ele cria alguns boizinhos e cavalos. Ele adora apartação.
- Apartação? O que é isso? Ele bota os cavalos ou os bois pra brigar? Credo!
Eu ri. Realmente ela não fazia idéia do que era apartação.
M sabia que meu irmão era bom nisso mas não entedia do que se tratava de verdade.
- Não. É um esporte. Vamos? Será minha convidada especial, que tal?
- Nossa convidada especial. Adorei. Acho que vou aceitar sim. Não tenho nada pra fazer por aqui mesmo. Nem namorado tenho mais.
- Então vamos fazer o seguinte, a que horas você sai do trabalho? Passo lá pra te buscar, já vai com mala pronta. Tudo bem?
- Nossa! Você tá realmente entusiasmado pra que eu vá. Ó não sei nem andar a cavalo viu! Advertiu me.
- Então tamos combinados, você vai comigo, como minha convidada, e eu te ensino a montar. A que horas passo pra te pegar?
- Normalmente saio as 17hr mas nesse dia posso sair mais cedo. Falo com meu chefe. As 15hr tá bom pra você?
- Tá ótimo. Assim chegamos a fazenda ainda com a luz do dia. Você vai adorar, pode ter certeza.
- Também tenho. Respondeu sorrindo. Como seu sorriso me fascinava.
Nos despedimos entre risos e brincadeiras. Ótima idéia que tive ao convida-la pra ir comigo pra fazenda. Assim poderíamos nos conhecer melhor e quem sabe... quem sabe.
O resto da semana se passou tranqüilamente, sem nenhuma novidade. Avisei ao meu irmão que iria levar M comigo. No inicio ele não gostou da idéia, devido ao ocorrido no shopping. Expliquei para ele que ela tinha terminado tudo com o carinha e se sentia muito culpada pelo ocorrido, chegando a me pedir desculpas. Contei toda a estória para meu irmão. Não sei se falei. Mas o Leo além de irmão é meu confidente. A pessoa em quem confio tudo que penso e faço. Não escondemos nada um do outro e a convivência da estrada nos tornou mais cúmplices ainda. Acho até que ele percebeu antes de mim meus sentimentos para com M mas guardou pra si. Chega a sexta-feira, e com ela a minha empolgação. Logo cedo arrumo tudo e levo o carro no posto pra checar pneus, óleo, freios, essas coisas que são importantes para quando se vai pegar a estrada. No trabalho M chega toda empolgada, iria conhecer a tão afamada fazenda dos irmãos Victor e Leo mas o que mais lhe deixava feliz é que foi convidada por mim. Quem sabe não surgiria uma bela amizade dessa viagem. Viagens são boas para se estreitar laços. E estar ao meu lado a fazia radiar alegria.

domingo, 23 de outubro de 2011


Eu vou pra casa, chego rápido pois o trânsito estava calmo. Subo mas ao levar o dedo pra apertar o 3 olho o painel do elevador e lembro da M. Aquela carinha triste, se sentindo culpada. Respiro fundo e aperto o 5. Vou até seu apartamento. Chegando lá aperto a campainha, silêncio. Será que ela saiu? Tento novamente, então ouço sua voz.
- Já vai!
Abro um sorriso. Logo ela abre a porta, estava vestida com um camisão de malha. Acho que uma camisola, não sei. Cabelos molhados tentando seca-los com a toalha. Ela se espanta em me ver.
- Victor!?!
- Posso entrar?
- Claro, disse me dando passagem e me mostrando seu sofá.
Reparo em seus móveis. Tudo muito simples mas de muito bom gosto. A sua sala tem um ar acolhedor. Gostei.
- Desculpa vir sem te avisar, mas acho que ainda temos coisas pra conversar.
- Imagina. E Elaine?
Respirei fundo e continuei.
- Deixei ela em casa. E é sobre ela que quero conversar com você. Estou te atrapalhando?
- De jeito nenhum. Victor por favor, não brigue com sua namorada, eu que insisti pra que ela fosse comigo. Fiquei com receio que não quisesse me receber.
- É sobre isso mesmo que quero falar. A Elaine não é nem nunca foi minha namorada.
M cai no sofá diante da minha revelação.
- Como assim? Ela disse...
- Ela mentiu M. Não sou nem nunca fui namorado dela.
- Mas... no dia do show no Parque do Sabiá ...
- Naquele dia fui um infeliz, fiz uma besteira sem tamanho desfilando com ela ao meu lado. Não consegui dizer que tinha sentido ciúmes dela com o Tuca. Fiquei com receios de ser mal interpretado. Continuamos a conversar, expliquei que levei Elaine até em casa mas não tinha rolado nada entre nós. Foi só uma gentileza que fiz para com ela, nada mais do que isso.
- Victor. Sério? A Elaine disse que vocês estavam juntos, há tempos até. Não posso acreditar que ela mentiu pra mim. Logo ela, minha melhor amiga, melhor não única amiga.
- Sinto muito em te trazer essa decepção M mas tinha que lhe falar. Elaine mentiu, com relação a algum envolvimento amoroso entre nós pelo menos. Não tive, não tenho e não pretendo ter nada com ela. Precisava te contar isso, pra que não paire nenhuma dúvida.
M ouvia as minhas explicações. Tive que usar as palavras com cuidado pra não me entregar. Não sei ainda ao certo o que sinto por M e ainda não é a hora de conversarmos sobre isso. Senti que era obrigação minha avisar M, caso Elaine tentasse enrolar, ela já saberia da verdade. Ficamos mais um tempo conversando. Depois de tudo esclarecido me despedi dela e voltei para o meu apartamento. Me sentia mais leve, como se tivesse tirado um peso das minhas costas. Eu livre, ela também. Quem sabe? Talvez, talvez. Fui para casa e a noite transcorreu tranqüilamente.

Elaine entrou em casa batendo os cascos.
- Isso não vai ficar assim M. Você me paga, você me paga. Resmungava pra si. Agora você vai ver o que é bom. Idiota. Tinha que terminar tudo com o Tuca, logo agora. E ele? Onde será que está esse idiota. Deve tá chapado em algum buraco. Vou ligar pra ele. Pega o celular e busca o nome do Tuca chamando logo em seguida. Tuca atende rápido.
- Fala Elaine. O que você quer tô ocupado.
- Então me diga, tá cheirando ou só injetando mesmo. Porra, como é que você termina tudo com aquela sonsa. Esqueceu o combinado?
- Ei! Calma lá! Eu não te devo explicações não. Se você não consegue prender o caipira chucro não é culpa minha não. Eu te fiz um favor, e dos grandes, ficando com sua “amiguinha”. Ô mala aquela guria viu. Agora estamos quites. Não te devo mais nada.
- Esqueceu que sei de todo seu esquema? Fornecedores, clientes, nomes, endereços, telefones, tudo! Se você não me ajudar pode ter certeza que todas essas informações irão parar nas mãos do delegado da entorpecentes aí eu quero ver você se explicar.
- Você não tem nada. Tá blefando. Eu já te ajudei e muito aturando aquela fedelha agora o problema é seu.
- Pague pra ver então. Ou se não quiser ser preso e acabar com toda sua mordomia vem aqui em casa agora! Intima Tuca e desliga em seguida o telefone.
- Vamos ver quem vai ficar com o Victor no final dessa estória, vamos ver M.
Passado 30 minutos o interfone de Elaine toca.
- Quem é.
- Sou eu porra. Responde Tuca nervoso.
- Entra. Diz apertando o botão pra que o portão se abra.
Tuca sobe e Elaine já está com a porta do seu apê aberta esperando-o.
- Demoro hein!
- Tava numa reunião. E você me atrapalhou. Sabe quanto posso perder de grana num dia como hoje? Seu piti num dava pra esperar não é?
- Não é piti nenhum. Senta aí. Temos que conversar, arrumar um jeito de separar esses dois, não me importa como, mas tenho uma idéia.
Então Elaine começa a conversar com Tuca, que só balança a cabeça negativamente, discordando de toda a sua idéia.
- Se eu fizer isso que você tá falando aí sim que eles vão ficar juntos. Não dá. Temos que bolar outro plano.
Eles ficam ali, no sofá da sala de Elaine, confabulando mais uma tramóia.

Ela me sorri toda feliz. Finalmente teria sua tão sonhada noite de amor. Vai acreditando. Vai.
Abro a porta do carona pra que Elaine entre. Dou a volta no carro e entro já dando a partida. Saímos do prédio e M está atrás das cortinas de sua sala e vê meu carro sair do prédio. Ela percebe que Elaine está ao meu lado. Se entristece. Vamos o caminho todo em silêncio. Um silêncio providencial assim poderia pensar em como dar um basta na Elaine sem ser grosso com ela. Difícil. Chegamos ao prédio da Elaine. Paro o carro em frente ao seu portão, desligo e tiro meu cinto de segurança me virando para seu lado.
- Elaine precisamos conversar.
- Claro. Não quer subir?
- Não. Não quero e não vou.
Tive que ser direto, se começasse a ficar cheio de dedos não conseguiria acabar com aquela situação.
- Você tá chateado comigo, né! Desculpa mas a M insistiu pra que eu fosse junto com ela.
- O problema não é esse. Respiro fundo e então continuo. Não tinha como não ser duro com ela. O problema é que pelo que entendi você disse pra M que temos algo. O que não é verdade.
- Como assim?  E aquela noite? E os beijos?
- Foi um erro Elaine. Um erro estúpido da minha parte.
Erro estúpido. Ao ouvir tais palavras Elaine sentiu raiva. Ódio de M pois foram as mesmas que usou pra afasta-la de mim.
- Poxa Victor eu pensei...
- Pensou errado. Mas a culpa não é sua. Tentei amenizar a situação. Detestava fazer esse papel mas era um mal necessário.
- Eu é que errei. Errei em te usar. Me desculpe mas tenho que confessar, fiz tudo que fiz por ciúmes. Senti ciúmes da M com o namorado dela e pelo que entendi ele percebeu e por isso veio pra cima de mim. Não sei exatamente o que sinto por ela mas não posso mentir pra mim mesmo e muito menos te usar como usei. Então estou colocando as cartas na mesa com você. Eu não vou me envolver contigo.
Elaine ouvia tudo calada. Como assim? Usada? Cachorro! Então a fama de pegador dele era verdade. A cada palavra que me ouvia pronunciar sentia cada vez mais raiva de M. Aquela sonsa, se fazia de boazinha mas bastou uma única oportunidade sozinha comigo para aproveitar e me fisgar de jeito.
- Como você tem coragem de me dizer tudo isso? Canalha! Estourou Elaine.
- Eu sinto muito mas estou sendo sincero contigo.
- É ela né? A M, ela deve ter dito coisas horríveis a meu respeito. Cretina, sonsa.
- Hei! Vamos com calma tá! M não tem nada com isso. O erro foi unicamente meu. E pelo que pude perceber hoje você também se aproveitou da situação e deve ter inventado pra ela que estávamos namorando. Só espero que depois de hoje você fale a verdade pra ela.
Elaine não respondeu estava com tanta raiva de M por fazer com que Victor sentisse ciúmes dela que só deu um bufão e saiu do carro batendo a porta sem dizer uma única palavra. Eu só a acompanhei com os olhos até ela entrar no prédio. Depois disso dei partida no carro, coloquei meu cinto e voltei pra casa.
- Espero sinceramente que você fale a verdade pra M Elaine. Espero. Pensei em voz alta, enquanto ia pra casa.

sábado, 22 de outubro de 2011


- Oi Victor. Podemos entrar? Pergunta M.
- Por favor. Respondo incrédulo.
O que Elaine estava fazendo ali, no meu apartamento. Elas entram e indico o sofá para que sentem. Elaine vem em minha direção, segura meu pescoço e me beija a boca. Argh!
Elas se acomodam e logo M começa a falar.
- Victor, eu nem sei por onde começar. Estou super sem-graça pelo que aconteceu.
Olho em seus olhos e sinto como que meu coração quisesse sair pela boca. Sento próximo a ela mas Elaine que ainda estava em pé senta-se ao meu lado, segurando minhas mãos.
- O que aconteceu M? Não entendi? Se desculpar por que?
Então Elaine toma as rédeas da conversa.
- Amor! Ela está se sentindo culpada, pelo que aconteceu contigo no shopping. Eu disse que você estava bem.
Olho pra Elaine sem entender. Amor? Como ela soube do ocorrido? Será que M falou pra ela? Só pode ser. Solto suas mãos das minhas e me volto pra M que não me encara, só olha para o chão. Sinto pena. M parece tão frágil, desamparada. Se não fosse a presença de Elaine ali na sala eu a abraçava igual a noite da tempestade. Queria protege-la, conforta-la.
- Você não tem que pedir desculpas por nada M. Sério. Não foi culpa sua.
- Ele não tinha esse direito Victor.
M não tirava os olhos do chão enquanto que Elaine voltava a investir sobre mim.
- Peraí Elaine! A conversa é séria! Digo já irritado com os afagos de Elaine nos meus cabelos. Quem lhe deu essa liberdade?
- M! M olha pra mim. Peço.
Ela levanta seus olhos e noto que estão marejados. Corta-me o coração vê-la assim.
- Você não tem que se sentir assim. Não foi culpa sua. Repito.
- Mas você acabou sendo internado. Eu soube. A D. Matilde disse. Respondeu entre soluços.
- Calma M. D. Graça! Por favor traz um copo d’água pra M. Chamo.
Logo D. Graça vem pra sala com a água na mão. Vê M sentada no sofá quase chorando e uma outra moça. Não conhece mas pela intimidade que demonstra ter deve ser a namorada do patrão. Pensa.
- M minha filha. O que houve?
- Ela tá assim por causa da briga com o namorado dela D. Graça. Explico.
Pego o copo da mão de D. Graça e entrego pra M. Noto que suas mãos tremem. Ela pega o copo toma um pouco da água e continua.
- Eu tive uma conversa séria com ele. Disse que ele não tinha o direito de fazer o que fez. Até brigamos. Terminei tudo.
Terminei tudo. Essas palavras soaram como música em meus ouvidos. Senti uma invasão  inexplicável de felicidade no meu ser.
- M. M olha pra mim. Eu só fui internado por que já estava machucado. Seu namorado, digo, ex, não me machucou não. Ele me pegou distraído e devido ao meu problema anterior é que tive que ser internado. Mas não foi nada sério não. Já estou de alta e até já voltei a viajar.
Continuamos a conversar. M aos poucos foi se acalmando. Depois de um tempo consegui convence-la que não tinha culpa nenhuma mas pra que ela se convencesse disso aceitei suas desculpas. Sentia uma imensa dor no peito vê-la assim tão triste. No final da nossa conversa, com ela mais calma ela agradeceu.
- Obrigada Victor, eu jamais me perdoaria se você não reconhecesse que não fiz de propósito.
- Já falamos M. Você não teve culpa. Lembre-se disso. Agora é seguir em frente.
- Tá certo. M olha pra Elaine que está com cara de poucos amigos. Sua conversa com o namorado dela estava se estendendo por demais então resolveu encerrar o assunto.
- Vou pra casa agora. Obrigada mais uma vez, por pelo menos me ouvir. Levantou. Vou deixar vocês namorarem em paz agora.
Namorar? Como assim? Nãooo! Agora entendi tudo. Elaine não disse que não rolou nada naquele fatídico dia. Pelo contrário acho até que mentiu sobre nós. Merda!
- Eu tenho um compromisso terei que sair também.
- Ai! E eu aqui te atrasando. Voltando a se sentir culpada.
- Tudo bem. Não estou atrasado não. Tô no horário. Disfarcei olhando o relógio.
Ficar sozinho com Elaine? Nem pensar! Ainda bem que pensei rápido e inventei essa desculpa.
Elaine percebendo minha tática é mais rápida ainda.
- Me dá uma carona então amor?
Ela me chamar de amor é o fim.
- Infelizmente não vai dar. Vou pra outro lado, totalmente contramão pra mim. Tento ser educado mas já cortado suas investidas.
Ela sem ter como argumentar concorda com a cabeça. Ufa! Escapei novamente. Nos despedimos de M que vai pra seu apartamento e Elaine aproveita e diz.
- Te levo até o carro então, querido.
Respiro fundo.
Então me esperem aqui. Vou pegar os documentos do carro. Vou para o quarto pego os documentos, minha carteira, chaves e meu celular. Passo na cozinha e me despeço da D. Graça.
- Tchau D. Graça. Já estou indo. Até amanhã então. E pisco o olho pra ela que graças a Deus percebe que estou mentindo e me ajuda.
- Até amanhã Seu Victor. Fala alto e pisca o olho de volta. Eu só rio. Valeu.
M está na sala com Elaine me esperando pra sairmos. Abro a porta e deixo que elas saiam primeiro. Pegamos o elevador e primeiro deixamos M no andar dela. Desço só eu e Elaine. Mudos. Quando chegamos ao térreo. Despeço-me de Elaine secamente, não gostei da intimidade que ela quis fingir que tinha comigo. Ela me olha e diz:
- Agora são duas.
- Hein? Volto a olha-la.
- Você tá me devendo duas. A primeira foi no dia do show e agora hoje.
Respiro fundo. Tenho que acabar com isso de uma vez por todas.
- Vem.
- Onde?
- Vou te levar em casa.

Depois da briga com Tuca M não ouviu mais falar dele. Passou os dias entre o trabalho e a academia. Não tinha vontade de sair a noite, apesar das insistências das amigas. E todo dia perguntava para Elaine quando Victor voltaria e relembrava da sua promessa de ir com ela ao apartamento dele para se desculpar. Elaine estava cada dia mais irritada com a insistência dela mas não sabia noticias minhas e tinha esperanças que M voltasse a soltar mais alguma informação. Na segunda, depois da academia M voltava tranqüila pra casa e quando chega no prédio Rafael, que já está de saída e segura o portão para que entre, lhe dá a informação que tanto buscava. Eu estava de volta. Cheguei na parte da tarde. Ela agradeceu. Tinha pedido ao Rafael para avisa-la. Não podia contar muito com Elaine. Tava desconfiada que ela já estava ficando com ciúmes de tanto que insistia em saber notícias minhas. Mas só queria se desculpar nada além disso.
Desde sua infância sentia-se culpada. Lembrou das brigas dos pais, quando seu irmão ainda não havia nascido, era sempre o mesmo assunto. O fato de ela ter nascido menina e não menino, como tanto queriam. O pai culpava a mãe, chamava ela de incapaz e ela o culpava pelo mesmo motivo chamando o de incompetente. Sentia-se feliz somente na cozinha, sob os cuidados da cozinheira e os carinhos do motorista, seu marido. Eles sim, foram seus verdadeiros pais. Ensinaram tudo que sabia e principalmente lhe deram amor. Coisa que seus pais jamais fizeram.
Com a informação do Rafael decidiu. Não passaria do dia seguinte pra procurar o Victor. Antes dele voltar a viajar. Iria arrastar a Elaine pro seu apartamento no final do expediente.
No dia seguinte chegou cedo a repartição. Mal tinha dormido, pensando nas palavras que usaria pra falar com ele. Assim que Elaine chegou não a deixou nem chegar a sua mesa. Parou no corredor mesmo.
- Elaine, é hoje!
- É hoje o que mulher? Já se irritando novamente com M. Logo cedo ela já estava perturbando.
- Eu soube. Ele já voltou de viagem. Você prometeu.
Então ele estava de volta. Ótimo! Hoje ele não me escapa. Pensou Elaine.
- Tá eu vou com você. Eu não lhe falei nada pra que ele pudesse chegar com calma, mas você tá tão ansiosa pra se desculpar que vou quebrar esse galho pra você.
- Almoçamos juntas? Perguntou M toda empolgada.
- Não. Não dá. Terei que resolver alguns problemas.
- Mas você volta a tarde não volta? Perguntou preocupada.
- Volto M. Volto. Agora me deixa chegar, né!
- Combinado então. Depois do trabalho você vem comigo. Bateu o martelo
Elaine só concordou com a cabeça e foi para sua mesa. Foi esperta novamente, M entregou o ouro facinho, iria aproveitar a hora do almoço e dar uma caprichada no visual. Ele não lhe escaparia dessa vez. Iria com M ao apartamento do Victor e depois daria um jeito de despachar M de lá. Aí sim! Ele seria seu. Só seu.
Na hora do almoço se despediu de M e foi para o salão de beleza de costume. Aproveitou a manhã e conseguiu marcar para o almoço pra fazer pé, mão e uma escova. Tinha conseguido pra uma hora depois uma seção com sua depiladora. Tudo estava a seu favor, não tinha como nada dar errado.
Elaine voltou a repartição toda repaginada, todos repararam em sua produção. M também notou e ficou mordida, Elaine tinha saído não pra resolver problemas mas pra se produzir para o Victor. Ficou pensando e chegou a conclusão que ela tava certa. Afinal estava indo com a vizinha dele e no seu lugar faria o mesmo. Não podia deixar margens pra que ele olhasse pra outra mulher que não a própria namorada. Deu de ombros. Só queria era se desculpar mas reconheceu que sua atitude a incomodou. No final do expediente M quase que arrastou Elaine pra fora da repartição. Estava ansiosa. Elaine também. Pegaram até um táxi pra chegarem mais rápido. Elaine era só sorrisos e repetia pra si própria. É hoje! Chegaram ao prédio e M pergunta ainda na portaria para Rafael se o Victor estava em casa. Recebendo a resposta positiva M olha Elaine e lhe sorri. Vão para o elevador e M aperta o 3, prefere ir direito ao meu apartamento e acabar logo com esse mal estar. Chegam ao andar, saem do elevador e vão ao meu apartamento. Tocam a campainha.
- Pode deixar que atendo D. Graça. Digo em voz alta.
Olho no olho mágico e vejo M. meu coração sem nenhuma razão aparente dispara. Mas quando abro a porta tenho a surpresa.
- Oi M ... Elaine!?!