Vamos
tranqüilamente, conversando, curtindo música. No meio do caminho fazemos uma
única parada, para almoçar. Escolhemos um pequeno restaurante na beira da
estrada. Fico com receios de ser reconhecido por fãs, então paramos um pouco
mais cedo do que costume. Estaciono o carro, desço e dou a mão para M me
acompanhar. Entramos no restaurante e escolho uma mesa próximo da janela. Puxo
a cadeira para M e sento em frente a ela.
- Já sei por que você
escolheu essa mesa aqui. Diz com um ar displicente.
- Ah é! E porque?
- Para quando você
pedir a conta pular por essa janela aqui e sair correndo, só pra que eu pague a
conta. Respondeu rindo.
- Droga, agora terei
que ser mais rápido do que você. Rebati.
O garçom veio,
escolhemos um filé com fritas, pra dois. Enquanto esperávamos nosso almoço, não
teve jeito, fui reconhecido não por uma mas por cinco. Isso mesmo caro leitor
cinco fãs. Estávamos sentados conversando tranqüilamente quando ouço um buxixo.
Olho para o lado mas é tarde de mais. Uma senhorinha, acompanhada de mais 4
“colegas” que estão numa mesa próxima a nossa, me dá um tchauzinho e mostra a
câmera fotográfica, como que solicitando uma foto, todas na casa dos 70. Sorrio
de volta e concordo com a cabeça.
- Ganhou pra hoje
hein Victor! Brinca M.
Então, meu pior
pesadelo acontece. A senhorinha, junto com suas “colegas” vem até a nossa mesa.
Levanto pra cumprimenta-las. A que me pediu a foto logo se pendurou no meu
pescoço e me beijou, se não sou rápido o suficiente ela me beijava a boca. M ao
ver a cena, não se agüentou e começou a rir. Prontamente se oferece para bater
a foto, não sei se para me livrar daquela enrascada ou pra me colocar numa
pior. A senhorinha entrega a câmera para M enquanto cumprimento as suas
“colegas”. Elas se apresentam, mas por favor, não me perguntem seus nomes. Nem
que eu quisesse lembraria. Então M toma as rédeas da situação. Pior para mim.
Muito pior. Ela pede para que todas se reúnam ao meu lado. A mais atirada logo
me abraça pela cintura. Fazer o quê? As outras tomam suas posições. Sinto então
um leve apertão na minha bunda. Não é que a senhorinha tava me bulinando? Tomei
um susto e então o flash. M olha o resultado da foto e diz:
- Não ficou boa, sorri aí Victor. Mais uma.
Olho para M querendo
fuzila-la. E toma-lhe apertão na bunda. Que velha mais safada! M ainda fez
questão de repetir a maldita foto umas três vezes. Se não digo que tá bom acho
que ela repetira umas 10. Quando penso que tinha acabado minha sessão tortura M
resolve me surpreender.
- Ah! Agora uma de
cada vez, sozinha com ele. Sugere.
Ah! M. Vai ter
troco, pode apostar que vai. E toma-lhe foto. Então minha salvação vem em forma
de carne. Chega o nosso almoço. Gentilmente me despeço de todas pois tenho que
almoçar. M entrega a câmera para a senhoria que toda sorridente agradece a ela.
Dá até beijinhos no seu rosto. Coluio de mulheres. Elas se vão e eu volto a respirar.
Sentamos a mesa e M é só sorrisos.
- Adoráveis não?
Pergunta toda sorridente.
- Sei. Não foi a sua
bunda que foi apertada.
- É o preço da fama,
oras. Brinca.
- Vamos almoçar?
Tento encerrar o assunto.
M percebe que não
gostei da brincadeira então resolve se calar. Almoçamos tranqüilamente mas
também em silêncio. Acho que peguei pesado com M. Afinal ela não tem culpa se
tenho fãns digamos, mais afoitas. Terminamos o almoço, peço a conta, pago e nos
levantamos para ir embora então só ouço.
- Mais já?
Dou um sorriso
amarelo e aceno com a mão. Pego na mão de M, antes que ela tenha mais uma
manifestação de caridade e se ofereça pra fazer mais fotos. Saímos do
restaurante, abro o carro para que M entre. Dou a volta e entro também, já
colocando meu cinto e dando a partida no carro.
- Que um doce? Da
cesta que a tia Mirtes me deu? Pergunta tentando restaurar o clima amistoso.
Respiro fundo,
tentando me acalmar.
- O que tem aí?
M sorri para mim,
pronto, ela me quebra com seu sorriso. Vira-se e pega a cesta na parte de trás
do carro.
- Tem manga, maças,
compotas de tudo que é jeito, doce de leite, suspiro...
- Suspiro.
M abre o saco de
suspiros e me oferece. Pego um, coloco na boca e começo a manobrar o carro pra
irmos pra estrada novamente. Assim que pego a estrada M se acomoda ainda mais
no banco, de forma preguiçosa. Olho para ela.
- Saudades?
- É! Não dá vontade
nem de voltar pra casa. Adorei nossa viagem. Obrigada.
- Quem sabe não
fazemos outras? Só depende de você.
M volta a me olhar
de forma séria. Não tinha nada que falar assim. Droga! Melhor ficar calado.
Então pego mais um suspiro. Boca ocupada não fala besteiras.
- Posso colocar uma
música?
- Claro. Escolhe aí.
M abre o porta-luvas
e escolhe um cd. Coloca no player e volta a se recostar no banco. Ela olha pra
mim e começa a rir. Olho pra ela e pergunto.
- Tá rindo do que?
- Você.
- Não entendi. O que
foi que eu fiz agora?
M continuou a rir.
- Seu rosto, tá sujo.
- Sujo? De quê?
Então ela se
aproxima de mim e limpa o canto da minha boca com seus delicados dedos.
- Suspiro.
Seu toque, suave e
delicado me perturba. Respiro fundo e me concentro na direção. O resto da
viagem é tranqüilo, quase não pegamos trânsito. Chegamos no prédio, dou uma
pequena buzinada e o Rafael vem abrir a garagem.
Saímos do carro,
abro o porta malas então só ouço uma voz.
- Viajaram juntos é?
Era D. Matilde, no
corredor, cheia de sacolas, olhando para nós com um olhar perigoso. M toma um
susto então eu tento disfarçar.
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