domingo, 13 de novembro de 2011


Vamos tranqüilamente, conversando, curtindo música. No meio do caminho fazemos uma única parada, para almoçar. Escolhemos um pequeno restaurante na beira da estrada. Fico com receios de ser reconhecido por fãs, então paramos um pouco mais cedo do que costume. Estaciono o carro, desço e dou a mão para M me acompanhar. Entramos no restaurante e escolho uma mesa próximo da janela. Puxo a cadeira para M e sento em frente a ela.
- Já sei por que você escolheu essa mesa aqui. Diz com um ar displicente.
- Ah é! E porque?
- Para quando você pedir a conta pular por essa janela aqui e sair correndo, só pra que eu pague a conta. Respondeu rindo.
- Droga, agora terei que ser mais rápido do que você. Rebati.
O garçom veio, escolhemos um filé com fritas, pra dois. Enquanto esperávamos nosso almoço, não teve jeito, fui reconhecido não por uma mas por cinco. Isso mesmo caro leitor cinco fãs. Estávamos sentados conversando tranqüilamente quando ouço um buxixo. Olho para o lado mas é tarde de mais. Uma senhorinha, acompanhada de mais 4 “colegas” que estão numa mesa próxima a nossa, me dá um tchauzinho e mostra a câmera fotográfica, como que solicitando uma foto, todas na casa dos 70. Sorrio de volta e concordo com a cabeça.
- Ganhou pra hoje hein Victor! Brinca M.
Então, meu pior pesadelo acontece. A senhorinha, junto com suas “colegas” vem até a nossa mesa. Levanto pra cumprimenta-las. A que me pediu a foto logo se pendurou no meu pescoço e me beijou, se não sou rápido o suficiente ela me beijava a boca. M ao ver a cena, não se agüentou e começou a rir. Prontamente se oferece para bater a foto, não sei se para me livrar daquela enrascada ou pra me colocar numa pior. A senhorinha entrega a câmera para M enquanto cumprimento as suas “colegas”. Elas se apresentam, mas por favor, não me perguntem seus nomes. Nem que eu quisesse lembraria. Então M toma as rédeas da situação. Pior para mim. Muito pior. Ela pede para que todas se reúnam ao meu lado. A mais atirada logo me abraça pela cintura. Fazer o quê? As outras tomam suas posições. Sinto então um leve apertão na minha bunda. Não é que a senhorinha tava me bulinando? Tomei um susto e então o flash. M olha o resultado da foto e diz:
- Não ficou boa, sorri aí Victor. Mais uma.

  
Olho para M querendo fuzila-la. E toma-lhe apertão na bunda. Que velha mais safada! M ainda fez questão de repetir a maldita foto umas três vezes. Se não digo que tá bom acho que ela repetira umas 10. Quando penso que tinha acabado minha sessão tortura M resolve me surpreender.
- Ah! Agora uma de cada vez, sozinha com ele. Sugere.
Ah! M. Vai ter troco, pode apostar que vai. E toma-lhe foto. Então minha salvação vem em forma de carne. Chega o nosso almoço. Gentilmente me despeço de todas pois tenho que almoçar. M entrega a câmera para a senhoria que toda sorridente agradece a ela. Dá até beijinhos no seu rosto. Coluio de mulheres. Elas se vão e eu volto a respirar. Sentamos a mesa e M é só sorrisos.
- Adoráveis não? Pergunta toda sorridente.
- Sei. Não foi a sua bunda que foi apertada.
- É o preço da fama, oras. Brinca.
- Vamos almoçar? Tento encerrar o assunto.
M percebe que não gostei da brincadeira então resolve se calar. Almoçamos tranqüilamente mas também em silêncio. Acho que peguei pesado com M. Afinal ela não tem culpa se tenho fãns digamos, mais afoitas. Terminamos o almoço, peço a conta, pago e nos levantamos para ir embora então só ouço.
- Mais já?
Dou um sorriso amarelo e aceno com a mão. Pego na mão de M, antes que ela tenha mais uma manifestação de caridade e se ofereça pra fazer mais fotos. Saímos do restaurante, abro o carro para que M entre. Dou a volta e entro também, já colocando meu cinto e dando a partida no carro.
- Que um doce? Da cesta que a tia Mirtes me deu? Pergunta tentando restaurar o clima amistoso.
Respiro fundo, tentando me acalmar.
- O que tem aí?
M sorri para mim, pronto, ela me quebra com seu sorriso. Vira-se e pega a cesta na parte de trás do carro.
- Tem manga, maças, compotas de tudo que é jeito, doce de leite, suspiro...
- Suspiro.
M abre o saco de suspiros e me oferece. Pego um, coloco na boca e começo a manobrar o carro pra irmos pra estrada novamente. Assim que pego a estrada M se acomoda ainda mais no banco, de forma preguiçosa. Olho para ela.
- Saudades?
- É! Não dá vontade nem de voltar pra casa. Adorei nossa viagem. Obrigada.
- Quem sabe não fazemos outras? Só depende de você.
M volta a me olhar de forma séria. Não tinha nada que falar assim. Droga! Melhor ficar calado. Então pego mais um suspiro. Boca ocupada não fala besteiras.
- Posso colocar uma música?
- Claro. Escolhe aí.
M abre o porta-luvas e escolhe um cd. Coloca no player e volta a se recostar no banco. Ela olha pra mim e começa a rir. Olho pra ela e pergunto.
- Tá rindo do que?
- Você.
- Não entendi. O que foi que eu fiz agora?
M continuou a rir.
- Seu rosto, tá sujo.
- Sujo? De quê?
Então ela se aproxima de mim e limpa o canto da minha boca com seus delicados dedos.
- Suspiro.
Seu toque, suave e delicado me perturba. Respiro fundo e me concentro na direção. O resto da viagem é tranqüilo, quase não pegamos trânsito. Chegamos no prédio, dou uma pequena buzinada e o Rafael vem abrir a garagem.
Saímos do carro, abro o porta malas então só ouço uma voz.
- Viajaram juntos é?
Era D. Matilde, no corredor, cheia de sacolas, olhando para nós com um olhar perigoso. M toma um susto então eu tento disfarçar.

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