Desço do carro e dou
a volta abrindo a porta do carona. M então pula para o banco do motorista e
coloca o cinto, eu faço o mesmo, só que sentado no banco do carona. Dou algumas
explicações, sobre freio, embreagem, marchas. Tudo muito prático mas sempre em
tom de brincadeiras. M dá a partida e eu pra variar me benzo e começo a fingir
que rezo. Ela bate em meu ombro.
- Bobo!
No inicio são só
solavancos. Rimos muito mas por precaução fico com a mão no freio de mão,
discretamente para que não a desanime. Aos poucos M começa a manobrar o carro,
é impressionante como ela aprende rápido. Logo ela está dando voltas pelo campo
de terra, então resolvo inovar.
- Bom agora você vai
aprender a andar de marcha ré.
- Ih! Victor, agora
lembrei. Quando eu for comprar um carro não posso esquecer que não pode ser um
GOL.
- Por que?
- Ué. Você não sabe?
O GOL não tem marcha ré.
- Claro que tem. Todo
carro tem marcha ré.
- Tem não, senão faz
gol contra. Brinca.
Cai feito um pato.
- Ah! Então vou te
dar uma CORSA de presente.
- Um CORSA?
- É, uma corsa de
criar bicho, se você não aprender a dirigir direito. Brinquei.
Depois de aprender
dar marcha ré. Inovei, desci do carro, peguei algumas pedras e galhos de
árvores que estavam caídos no chão e tentei improvisar uma baliza. Fiquei do
lado de fora, disse que seria o fiscal da sua avaliação. Só que de molecagem
fiz uma baliza estreita, não tinha como M não errar, o carro era grande e não
cabia no quadrado que preparei, propositalmente. Expliquei o que ela teria que
fazer e me posicionei. Tadinha fez tudo direitinho mas quando foi dar marcha ré
atropelou uma das nossas “balizas”. Mexi muito com ela que não acreditou no que
eu falava e chegou a descer do carro para conferir. Como ela ainda não tinha
muita noção de espaço não percebeu a falcatrua que fiz. E assim passamos o
resto da tarde. Não tava calor, mas também não choveu mais. Rimos bastante,
tudo improvisado é verdade mas bastante divertido. Só ficou faltando mesmo ela
aprender a dirigir num transito de verdade e subir e descer ladeiras o que
naquele local era impossível de ser feito. M ficou bastante animada em aprender
a dirigir. Desde o acidente com seus pais ela nunca mais pensou em aprender a
dirigir, mas agora, diante do meu incentivo voltou a se entusiasmar.
Voltamos para a
fazenda já anoitecendo. Eu dirigindo, mesmo diante de seus protestos, não
podíamos pegar a estrada com ela com tão pouca experiência. Chegamos e já tava
tudo pronto para o nosso jantar. Entramos em casa brincando e fazendo as
palhaçadas de sempre. Parecíamos duas crianças, tamanha a nossa sintonia.
- Então, como foi o
passeio? Perguntou D. Mirtes, saindo da cozinha.
- Ih! D. Mirtes, não
tenho boas notícias pra senhora não. Falei tentando ficar sério.
- O que foi patrão.
M fez alguma besteira. Pode falar, se ela te deu prejuízo nós pagamos, não se
preocupe.
Tadinha. Sempre tão
prestativa e protetora.
- O prejuízo não foi
meu não. Continuei. Quando estávamos passando em frente a sua casa, sabe as
suas roseiras?
- Ai, meu Deus! As
rosas brancas?
M tapou o rosto com
uma almofada pra não rir na frente da D. Mirtes.
- Pois é, essas
mesmas. A senhora acredita que ... bom eu juro para a senhora que tentei
desviar mas a M... e balancei a cabeça negativamente.
M não tava mais se
segurando e fez um barulho ao tentar abafar o riso na almofada. Seus olhos
estavam cheios d’água. Queria chorar de rir.
- Calma M. Nós
sabemos que você não fez de propósito, não precisa chorar. Disfarcei.
- Ai patrão. Fala.
Fala pra mim. O que tem minhas roseiras?
- Pois é D. Mirtes,
como eu tava dizendo. E olhei bem para M que estava vermelha de tanto rir. A M
fez questão de vir dirigindo até a fazenda, só que ao passarmos em frente a sua
casa um cachorro cruzou o nosso caminho. M se assustou e virou o volante
bruscamente e ... fiz uma cara de poucos amigos. Bom... ela passou em cima das
suas roseiras, derrubou tudo. Mas não foi de propósito não, viu. Sou testemunha.
Foi só por causa do cachorro.
Mal acabei de falar
e recebi uma almofada na cara. M jogou a almofada que segurava na minha
direção.
- Mentiroso! Tia ele
tá mentindo. Que coisa feia Victor. Tia nós não estragamos suas roseiras não.
Nem passamos perto da sua casa. E mais, ele veio dirigindo até aqui. Eu bem que
queria dirigir mas ele não deixou. Me entregou M. Em meio as minhas
gargalhadas.
- Desculpa D.
Mirtes, não resisti. Confessei.
D. Mirtes então
respirou aliviada, coitada. Ela só balançou a cabeça negativamente e resmungou.
- Ah, essas
crianças! E foi para a cozinha.
Eu e M caímos no
sofá rindo.
- Monstro. Você foi
um monstro com a tia Victor. Isso não se faz.
- É mas você gostou.
Tava se acabando de rir que eu vi, tá. E joguei a almofada de volta nela.
M se levanta e fala:
- Vou tomar meu
banho pra gente poder jantar. Disse isso passando por mim e bagunçando meu
cabelo.
- Eu também vou. Disse me levantando e indo
atrás dela pra fazer cócegas. Saímos correndo corredor adentro.
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