quarta-feira, 9 de novembro de 2011


Desço do carro e dou a volta abrindo a porta do carona. M então pula para o banco do motorista e coloca o cinto, eu faço o mesmo, só que sentado no banco do carona. Dou algumas explicações, sobre freio, embreagem, marchas. Tudo muito prático mas sempre em tom de brincadeiras. M dá a partida e eu pra variar me benzo e começo a fingir que rezo. Ela bate em meu ombro.
- Bobo!
No inicio são só solavancos. Rimos muito mas por precaução fico com a mão no freio de mão, discretamente para que não a desanime. Aos poucos M começa a manobrar o carro, é impressionante como ela aprende rápido. Logo ela está dando voltas pelo campo de terra, então resolvo inovar.
- Bom agora você vai aprender a andar de marcha ré.
- Ih! Victor, agora lembrei. Quando eu for comprar um carro não posso esquecer que não pode ser um GOL.
- Por que?
- Ué. Você não sabe? O GOL não tem marcha ré.
- Claro que tem. Todo carro tem marcha ré.
- Tem não, senão faz gol contra. Brinca.
Cai feito um pato.
- Ah! Então vou te dar uma CORSA de presente.
- Um CORSA?
- É, uma corsa de criar bicho, se você não aprender a dirigir direito. Brinquei.
Depois de aprender dar marcha ré. Inovei, desci do carro, peguei algumas pedras e galhos de árvores que estavam caídos no chão e tentei improvisar uma baliza. Fiquei do lado de fora, disse que seria o fiscal da sua avaliação. Só que de molecagem fiz uma baliza estreita, não tinha como M não errar, o carro era grande e não cabia no quadrado que preparei, propositalmente. Expliquei o que ela teria que fazer e me posicionei. Tadinha fez tudo direitinho mas quando foi dar marcha ré atropelou uma das nossas “balizas”. Mexi muito com ela que não acreditou no que eu falava e chegou a descer do carro para conferir. Como ela ainda não tinha muita noção de espaço não percebeu a falcatrua que fiz. E assim passamos o resto da tarde. Não tava calor, mas também não choveu mais. Rimos bastante, tudo improvisado é verdade mas bastante divertido. Só ficou faltando mesmo ela aprender a dirigir num transito de verdade e subir e descer ladeiras o que naquele local era impossível de ser feito. M ficou bastante animada em aprender a dirigir. Desde o acidente com seus pais ela nunca mais pensou em aprender a dirigir, mas agora, diante do meu incentivo voltou a se entusiasmar.
Voltamos para a fazenda já anoitecendo. Eu dirigindo, mesmo diante de seus protestos, não podíamos pegar a estrada com ela com tão pouca experiência. Chegamos e já tava tudo pronto para o nosso jantar. Entramos em casa brincando e fazendo as palhaçadas de sempre. Parecíamos duas crianças, tamanha a nossa sintonia.
- Então, como foi o passeio? Perguntou D. Mirtes, saindo da cozinha.
- Ih! D. Mirtes, não tenho boas notícias pra senhora não. Falei tentando ficar sério.
- O que foi patrão. M fez alguma besteira. Pode falar, se ela te deu prejuízo nós pagamos, não se preocupe.
Tadinha. Sempre tão prestativa e protetora.
- O prejuízo não foi meu não. Continuei. Quando estávamos passando em frente a sua casa, sabe as suas roseiras?
- Ai, meu Deus! As rosas brancas?
M tapou o rosto com uma almofada pra não rir na frente da D. Mirtes.
- Pois é, essas mesmas. A senhora acredita que ... bom eu juro para a senhora que tentei desviar mas a M... e balancei a cabeça negativamente.
M não tava mais se segurando e fez um barulho ao tentar abafar o riso na almofada. Seus olhos estavam cheios d’água. Queria chorar de rir.
- Calma M. Nós sabemos que você não fez de propósito, não precisa chorar. Disfarcei.
- Ai patrão. Fala. Fala pra mim. O que tem minhas roseiras?
- Pois é D. Mirtes, como eu tava dizendo. E olhei bem para M que estava vermelha de tanto rir. A M fez questão de vir dirigindo até a fazenda, só que ao passarmos em frente a sua casa um cachorro cruzou o nosso caminho. M se assustou e virou o volante bruscamente e ... fiz uma cara de poucos amigos. Bom... ela passou em cima das suas roseiras, derrubou tudo. Mas não foi de propósito não, viu. Sou testemunha. Foi só por causa do cachorro.
Mal acabei de falar e recebi uma almofada na cara. M jogou a almofada que segurava na minha direção.
- Mentiroso! Tia ele tá mentindo. Que coisa feia Victor. Tia nós não estragamos suas roseiras não. Nem passamos perto da sua casa. E mais, ele veio dirigindo até aqui. Eu bem que queria dirigir mas ele não deixou. Me entregou M. Em meio as minhas gargalhadas.
- Desculpa D. Mirtes, não resisti. Confessei.
D. Mirtes então respirou aliviada, coitada. Ela só balançou a cabeça negativamente e resmungou.
- Ah, essas crianças! E foi para a cozinha.
Eu e M caímos no sofá rindo.
- Monstro. Você foi um monstro com a tia Victor. Isso não se faz.
- É mas você gostou. Tava se acabando de rir que eu vi, tá. E joguei a almofada de volta nela.
M se levanta e fala:
- Vou tomar meu banho pra gente poder jantar. Disse isso passando por mim e bagunçando meu cabelo.
- Eu também vou. Disse me levantando e indo atrás dela pra fazer cócegas. Saímos correndo corredor adentro.

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