sexta-feira, 25 de novembro de 2011


Fomos para um dos parques da cidade. Estacionei. Tirei o cinto, peguei o envelope e me virei ficando de frente para M.
- Você falou com alguém que foi comigo pra fazenda?
- Não! Claro que não. Porque?
Respiro fundo.
- M. É sério. Você falou? Diz pra mim.
M me olhou no fundo dos olhos. Ela me hipnotizava com esse olhar.
- Não Victor! Já disse que não. O que aconteceu? Você aparece no meu trabalho, do nada. Quase que me arrasta para o seu carro. Invés de irmos pra casa você me trás pra cá. Já tá anoitecendo e daqui a pouco não tem mais ninguém aqui. Tô ficando com medo. O que aconteceu pra você tá assim? Fala!
Suspiro fundo. Vejo que ela tá falando a verdade. Tento então me controlar. Ela não tem culpa de nada. Pelo visto é mais vítima do que eu nessa estória.
- Você tem entrado na internet ultimamente?
- Desde que voltamos da viagem? Não, por que?
- Por causa disto aqui. Entrego o envelope nas mãos dela.
- O que é isso?
- Abra e veja você mesma.
M abre o envelope e começa a ver o conteúdo. Suas mão ligeiras, vão passando folha por folha. Seus olhos em um ritmo acelerado lêem o que levei alguns minutos pra compreender. A cada folha M só balançava a cabeça negativamente, percebo que sua respiração começa a ficar descompassada. Seu rosto fica vermelho, mas como está de cabeça baixa não consigo mais observar seus olhos. Assim que ela termina de ver todo o conteúdo. Coloca tudo de volta no envelope e me entrega. Muda. Ficamos assim por alguns minutos. M de cabeça baixa e eu olhando-a fixamente.
- Era esse o seu segredo não é? Perguntei.
M confirmou, ainda de cabeça baixa, mas sem dizer uma única palavra.
Seguro seu queixo e levanto seu rosto para que olhe para mim. Assim que olho sua face. Fico profundamente triste. Vejo seus olhos marejados, seu rosto transtornado por ter sido descoberta. Logo em seguida M começa a chorar. Não um choro de desespero, mas um choro contido, silencioso, diria até, sofrido. Ela não fala nada e volta a abaixar a cabeça.
- Calma! Não precisa ficar assim. Afago seu rosto.
- Mas eu não escrevi aquilo não, Victor. Eu juro pra você. Me responde entre soluços.
- Eu sei que não foi você. Isso é coisa de hacker.
- Hein?
- Invadiram seu perfil M., no orkut. E provavelmente foi através dele que chegaram no blog.
- Como você sabe disso?
- Tudo indica que estão querendo nos afastar. Por isso perguntei a você se contou sobre a nossa viagem. Só o meu irmão sabia que iríamos viajar juntos. M existe alguém que não gosta de você e que está visivelmente tentando te prejudicar.
- Mas como... não compreendo. Como você pode saber disso?
- M. Nós passamos 5 dias maravilhosos juntos. Você não acha que já te conheço um pouco? Um pouquinho que seja? Tá na cara que isso não foi você que fez. Até por que...Respiro fundo afinal eu tinha um segredo pra revelar.
- Até porque eu já sabia. Sabia que você era uma admiradora do meu trabalho. Que você participa e bastante nas comunidades do orkut e é a responsável pela atualização do blog deste fã-clube.
- Você sabia? Pergunta incrédula.
- Sempre soube. Temos uma equipe que controla tudo que sai a nosso respeito na mídia. Controla não seria bem a palavra, afinal não temos controle do que escrevem sobre nós. Mas é uma forma de saber o que andam falando. Além disso você acha que eu me apaixonaria por alguém sem saber pra quem entrego meu coração?
M me olha novamente nos olhos, fixamente. Como amo esse olhar.  Ficamos um tempinho assim. Delicadamente passo meus dedos enxugando suas lágrimas. Seguro seu rosto fazendo um leve carinho. M então volta a chorar, um choro de alivio, de alegria, felicidade. Abro meus braços para que ela se aconchegue.
- Vem cá, vem. Convido.
Ela vem até mim e me beija, um beijo carinhoso, doce e apaixonado que correspondo na mesma proporção. Volto a olhar para ela, seus olhos possuem um olhar meigo, apaixonante.
- Você tem alguma idéia de quem possa ser?
- Não. A mínima. Ainda não entendi direito tudo isso. Como você sabia? Como você sabe?
Pego novamente o envelope, abro e retiro uma das folhas, a do blog.
- Tá vendo isso aqui. Aponto para um dos textos.
- Sim. Mas eu não escrevi isso. Eu lembro muito bem. Nesse dia eu escrevi...
- Você escreveu sobre o show em BH. Eu lembro perfeitamente desse texto. Um texto muito bem escrito por sinal. E foi nessa folha que percebi que se tratava de fraude. Quando a nossa equipe de comunicação e imagem me mostrou esse texto na época que você escreveu ele me impressionou bastante. Pedi inclusive que acompanhassem mais de perto o blog e que se fosse necessário, fornecesse informações para vocês, pois percebi a seriedade, o carinho e o cuidado para com as informações passadas aos seguidores do blog.
- Tá, agora entendi. Mas quem pode ter feito uma maldade dessas comigo? Com você?
- Só pode ser alguém que conhece nós dois. Que sabe que nos conhecemos ou que pelo menos moramos no mesmo prédio.
M fica pensativa por alguns instantes. Meio que buscando alguma pessoa conhecida. Ela se vira para mim e respondemos juntos.
- Tuca ou Elaine.
- É também pensei neles. Acho até que o Tuca. Pois você disse que terminaram tudo não é? Só pode ser vingança dele.
- Não Victor. Ele não faria isso. Não é o jeito dele.
- E Elaine? Lembra que ela não falou nada que não estávamos namorando? Pelo que pude perceber, na época, ela até insinuou o contrário pra você.
- É verdade. Depois que você me contou tudo, ela não tocou mais nesse assunto. Se bem que eu também não. Mas por que? Pra que? O que ela ganha com isso? Eu não entendo, sinceramente não entendo.
- M. Afago sua cabeça reconstando-a em meu ombro. Infelizmente existem pessoas invejosas nesse mundo. Pessoas egoístas que querem tudo pra si.
- Eu sei. Não sou tão ingênua quanto pareço. Mas eu não fiz nada pra ela fazer isso comigo. Nada!
- Bom. Agora o negócio é fazer o seguinte: você, quando chegarmos em casa, entra na internet e troca todas as suas senhas. Pra que não façam mais estragos. Tudo. Absolutamente de tudo. Não só do orkut e do blog. Esses caras são perigosos e sabe-se lá o que mais fizeram. Nós só vimos isso aqui. E isso pode ser só a ponta do iceberg. E fica esperta quanto a Elaine e Tuca. Não dá mais pistas sobre nada. Melhor, já sei o que vamos fazer.
- O que? M olha pra mim curiosa.

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