Na manhã da
sexta-feira embarcamos cedo rumo a Cidade Maravilhosa. Linda mas um mercado
difícil para nós sertanejos afinal lá é o berço do samba. No aeroporto mesmo
pegamos um helicóptero que iria nos levar a Angra dos Reis, litoral sul do
estado. Dizem que tem praias lindas e água cristalina, ainda não conheço Angra
mas tenho muita curiosidade de ir pra lá. Quem sabe não me inspira a compor
belas canções. Chegamos ao hotel e então a desagradável notícia. O filho da
Claudinha passou mal durante a noite então ela ficou em São Paulo cuidado do
filho, gravação cancelada. O Leo aproveitou e deu meia volta, seu filho ainda
não estava totalmente bem, e voltou pra Uberlândia. Como acabamos ficando com o
final de semana livre aproveitei e fiquei por lá mesmo. Afinal não era sempre
que tinha essas folgas. Levei minhas coisas para o quarto e desci, resolvi dar
uma volta pelo hotel, fui até a piscina. Sento em uma das mesas, na sombra,
peço um suco e fico por ali olhando o movimento então tenho uma bela visão. Uma
mulher linda, de porte elegante, saia da piscina. Seu biquíni branco realça
ainda mais seu bronzeado.
Ela se enxuga e olha
para mim, me dá um sorriso, simples e educado. Senta-se na espreguiçadeira,
coloca seus óculos escuros e deita para tomar sol. Fico observando-a. Uma
morena clara, cabelos lisos na altura dos ombros. Pernas torneadas. Corpo
definido, mas não de quem malha, uma mulher elegante até nos gestos. Sem
perceber o gerente do hotel chega junto a mim.
- Com licença?
Estava tão absorto
na observação da morena que não ouço.
- Com licença
senhor? Repete.
- Hã! Sim. Pois não?
- Meu nome é Ricardo
e sou o gerente geral do hotel. Poderia dar uma palavrinha com o senhor?
- Claro!
Faço menção para que
se sente, indicando a cadeira em frente. Ele puxa a cadeira e se senta.
- Prometo que não
vou perturba-lo demais com a minha presença mas gostaria de lhe fazer uma
proposta.
- Proposta? Como
assim?
- O senhor veio até
aqui para fazer uma gravação com a cantora Claudia Leitte correto?
- Sim, mas foi
cancelado. Como o senhor mesmo deve estar sabendo.
Ele confirma com a
cabeça e continua.
- Exato. É que hoje
à noite teremos um pequeno Lual para os hospedes do hotel. Teremos um grupo
local muito bom tocando mas eu gostaria de lhe propor uma troca.
- Uma troca? Qual?
- Em troca da sua
estadia completa nesse final de semana aqui no hotel será que o senhor poderia
dar uma pequena canja no nosso Lual? Umas três musicas apenas tá bom.
- Três músicas pela
estadia completa?
- Exatamente. Não
mais do que isso.
Não era um mau
negócio. Afinal estava sem fazer nada mesmo e estava com o meu violão no
quarto.
- Negócio fechado!
Estiquei minha mão
pra apertar a sua. Ele agradece e sai discretamente, liberando assim novamente
minha bela vista.
Só que quando olho
ela já está entrando no hall do hotel, tinha ido embora. Pena! Fico mais um
tempo por ali como não tem mais nada de interessante, levanto e vou dar umas
voltas. Chego ao pequeno atracadouro, onde alguns iates estão ancorados. Vejo
um belo iate, o último, na parte mais externa da pequena baia. Belíssimo e
chamava a atenção por sua imponência.
Paro um dos
funcionários e pergunto sobre o barco.
- Pertence à
Senhorita Rodrigues. Uma alta executiva de uma multinacional. Ela tá hospedada
no hotel. Responde e se vai retomando seus afazeres.
Fico mais um pouco
ali. Observando o mar de Angra. Lindo mesmo. Olho novamente o iate e me vem na
lembrança a bela morena da piscina. Então rio sozinho. Pensei besteiras.
Resolvo voltar para
o meu quarto, descansar um pouco afinal aceitei o convite pra tocar mais tarde
então tinha que estar descansado. Passei antes pela recepção do hotel e
confirmei o horário do Lual. Almocei no quarto mesmo e o resto da tarde dormi.
Por volta das 8 da noite acordei, tomei um belo banho pra espantar a preguiça e
desci pra jantar. O restaurante estava relativamente cheio, percebo que algumas
pessoas me reconhecem mas não me abordam. Olho buscando uma mesa livre e
encontro uma não no centro mas também não era escondida. Sento e pego o menu. O
garçom vem e faço meu pedido. Assim que ele se vai vejo a morena elegante
entrar no restaurante, sozinha. Bom sinal. Uma mulher linda assim jantando
sozinha era sinal que não veio acompanhada de ninguém. Quem sabe podemos nos
conhecer. Ela me vê e me reconhece. Sorri para mim. Então o maitre a aborda e a
encaminha para uma outra mesa. Acompanho com o olhar, vejo que tem um grupo de
pessoas sentadas numa mesa. Pelo jeito como se comportam noto que são
executivos. Ela cumprimenta a todos e se senta com eles. São vários homens e
somente ela de mulher. Fico curioso mas é melhor manter a discrição nesse caso.
Vem o meu jantar,
faço minha refeição de forma calma e tranqüila, vez por outra olho para a mesa
da morena em alguns momentos ela está a olhar para mim. Pelo menos na minha
direção. Termino meu jantar levanto e saio do restaurante. Ela? Ela continuou
lá numa conversa bastante dinâmica com seus conviveres. Penso em dar uma volta,
aproveitar o clima gostoso da noite. Ainda no hall do hotel encontro com o
gerente. O mesmo que me abordou na piscina. Ele vem sorridente.
- Tá tudo pronto pro
Lual gostaria de ver? Me convida.
Concordo com a
cabeça então vamos para a piscina do hotel. Toda iluminada, e um pequeno palco
num dos lados. Vários colares de flores, algumas tochas acesas, tudo de muito
bom gosto.
- Posso pedir uma
gentileza? Pergunto.
- Sim senhor.
- Seria possível
alguém me chamar quando for a hora? Digo, no meu quarto. Prefiro ficar lá,
concentrado.
- Claro! Pode ficar
tranqüilo.
Me despeço do
gerente e volto para o meu quarto. Achei melhor, no meu canto, assim não seria
abordado antes da hora e limitaria minha participação somente as 3 músicas
combinadas. No horário previsto o telefone do meu quarto toca. É o gerente me
avisando que em no máximo meia hora o Lual teria seu inicio. Olho o relógio
digital na mesinha de cabeceira, são 22:00. Pego meu violão e desço pra ver o
clima do local. Ao chegar na piscina um dos funcionários do hotel vem até mim e
se oferece a guardar meu violão. Melhor assim, mais discrição. Olho em volta a
procura de algum rosto conhecido então lá está ela. Acompanhada dos mesmos
homens que vi há poucas horas no restaurante. Procuro me sentar próximo a eles.
Vejo que conversam sobre negócios. Linda e elegante como jamais vi mulher
alguma.
Então o gerente
aparece no pequeno palco. Agradece a presença de todos e anuncia a atração da
noite. Não cita meu nome. Ele resolveu deixar pra me chamar no momento correto
assim não desviava a atenção do grupo que estaria se apresentando. Ótimo, quem
sabe teria chances de conversar com a morena. A festa estava bastante animada,
algumas pessoas dançavam próximo ao palco enquanto que outras saboreavam drinks
coloridos que eram servidos a todo instante. Preferi ficar no suco de abacaxi.
Vejo que a morena
não vai sair daquela conversa chata tão cedo então resolvo dar uma volta pelo
ambiente. Sentir o público afinal iria me apresentar também, é importante
sabermos o que o público quer ouvir. A todo instante volto a olhar na direção
da minha morena que também está a me olhar. Às vezes balança a cabeça
positivamente, como que concordando com que um dos seus acompanhantes fala,
outras, só sorria para mim. Resolvo me sentar novamente, só que dessa vez numa
posição em que fico de frente para ela. Quero muito conhecer essa mulher então
resolvo ir a luta. Sento em uma mesa próxima a sua só que de costas para o
palco e de frente para ela. Encaro-a insistentemente.
Ela me olha, sinto
que ficou perturbada com minha atitude. Fico assim encarando-a por algum tempo
então o gerente vem em minha direção. Está na minha hora. Ele me cumprimenta e
me leva até próximo do pequeno palco. A morena vê que eu sou levado para longe,
se despede dos seus acompanhantes e vem atrás de mim. Recebo meu violão. Dou
uma conferida pra ver se não o machucaram e como está a afinação então ouço uma
voz suave.
- Vai tocar?
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