Eu estou no trânsito e vejo que tudo começa a ficar confuso.
Fico apreensivo e começo a sentir um aperto forte no peito o que me deixa
bastante preocupado. Quando finalmente a muito custo chego em frente ao prédio
do trabalho de M vejo dois carros da polícia e um caos de pessoas ao redor.
Sinto um gelo passar por minha espinha. Paro meu carro atrás de um dos carros
da polícia. Desço correndo, gritando por M. Vou em direção ao aglomerado de
pessoas e quando finalmente consigo vencer aquela muralha de pessoas vejo
Elaine, estirada no chão e em volta de sua cabeça uma poça de sangue grosso e
escuro. Ela está morta! Me sinto tonto e com náuseas. Era uma cena muito forte.
Um dos policiais me apara pois sinto que vou desmaiar. Nos recostamos num dos
carros da policia. Então o policial que me acudiu me pergunta.
- O senhor conhece essa moça? Aponta para Elaine, ali
estirada no chão.
Eu só consegui concordar com a cabeça pois as náuseas não
tinham ido embora. Respiro fundo e busco M no meio da multidão. Começa me bater
o desespero então como num choque volto pro meio das pessoas. Gritando seu nome
e buscando-a incessantemente. Sou parado pelo outro policial que está com a
bolsa de M nas mãos. Quando vejo e reconheço sua bolsa só consigo balbuciar.
- Não. Não! Nãoooooooooooooooooooooooooooooo! Grito.
Sou contido pelo próprio policial que me leva
para longe do tumulto. Tento me acalmar mas é em vão. Aos poucos o tumulto vai
se desfazendo então a noticia que me faz ter novamente esperanças. Um homem,
parece ser colega das meninas, uma testemunha, ele conversa com o policial
então fico ali, junto, ouvindo seu relato dramático. Ele explica que a pessoa,
um rapaz, chegou de carro freando bruscamente, saltou do carro, armado, gritou
com a moça estendida. Puxou-a para frente do carro e deu um tiro em sua cabeça,
a moça cai, morta. Logo em seguida ouviu-se o grito da outra moça e as sirenes
da policia, o tal rapaz pegou a moça pelo braço e a arrastou para dentro do
carro. Parece que a moça conhecia o tal rapaz.
- Tuca! Falei em voz alta.
- Como? Perguntou o policial.
- O rapaz que este senhor esta falando, é o Tuca. Amigo da
Elaine. Aponto para ela que ainda está estirada no meio fio. Respiro fundo. E a
moça que este senhor tá falando é M. Minha namorada e ...
- E?
Volto a respirar, preciso me concentrar para poder ajudar M
nessa loucura.
- E ex do Tuca. É isso. Ela estava me esperando senhor
policial. Iríamos juntos para casa. Eu ... eu acabei me atrasando. Se não fosse
isso ela estaria aqui. Viva. Nos meus braços. Sinto um nó em minha garganta. O
desespero volta a tomar conta de mim.
- Calma, meu rapaz. Pelo que estou apurando a moça ainda
está viva. Temos que correr para conseguirmos resgata-la. O senhor vai ter que
vir conosco para depor no caso. E o senhor também. Disse para o senhor que
contou tudo o que aconteceu.
Quase ao mesmo tempo...
Assim que é arremessada dentro do carro por Tuca. M tenta
sair pela porta do carona mas não consegue ele coloca o cano de sua arma em sua
cabeça.
- Nem tente fazer isso M. Senão você terá o mesmo fim que
sua amiga! Ameaça.
M se encolhe toda no banco. Sente um medo enorme, assustada
com tudo que viu. Tuca sai cantando pneu e cortando o transito feito um
alucinado. M automaticamente coloca o cinto de segurança. Lembra do acidente
que matou seus pais postiços e que o que a salvou foi o cinto. Não quer morrer.
Não agora que tinha encontrado o amor da sua vida. Pensou em mim. Ficou
preocupada comigo. Em como eu reagiria ao saber do ocorrido. Sua mente era um
turbilhão de imagens. Do passado, do acidente, do presente, da morte de Elaine,
do dia anterior, nos meus braços, rindo e feliz. Tudo em uma fração de
segundos.
Eles logo saem da cidade e pegam uma estrada paralela, vão
para região rural, pegam diversas estradas de terra. M percebe que Tuca tá
tentando fugir, ou no mínimo despistar a policia. Então respira fundo e tenta
convence-lo de liberta-la.
- Tuca! Diz meio reticente.
- Cala boca! Grita assustando-a.
- Tuca. Por favor, deixa eu sair, você vai embora. Mas por
favor! Implorou em meio a lágrimas e soluços.
- Não posso. Disse
mais calmo.
- Por favor. Implorou.
- Não posso M. Você me conhece, sabe como é o meu rosto.
Você sabe muito sobre mim. Não posso te libertar, não depois de tudo o que
aconteceu. Você é o meu passaporte para a liberdade. Sem ele ...
Tuca fica em silêncio meio que tentando pensar exatamente o
que fazer.
- Sem você eu sou um cara morto. Morto entendeu? Disse
olhando-a.