Já em meu quarto. Coloquei minha carteira e meu celular sobre o criado-mudo. Estava irritadíssimo com a conversa que tive a pouco com D. Matilde. Como pode um ser tão experiente se ocupar da vida alheia. Podia aproveitar melhor o pouco tempo que lhe resta e fazer alguma coisa útil. Visitar um orfanato por exemplo. Se bem... melhor não, coitadas das criancinhas. Volto pra sala e tento terminar de ler meu jornal mas a imagem da M no carro daquele rapaz não me saia da cabeça. E o beijo? Parecia que tava vendo tudo novamente naquele exato momento. D. Graça chega na sala e se despede de mim. O combinado é ela trabalhar de 2a a Sábado sendo nos sábados só meio expediente.
- Já estou indo Seu Victor. Precisa de mais alguma coisa?
- Não D. Graça, muito obrigado. O almoço tá no forno?
- Tá sim senhor. Ainda tá quentinho se quiser é só servir. Ah! Fiz um fricassé de frango. Tá na geladeira. Se o senhor quiser é só esquentar pro queijo derreter, 20 minutinhos são o suficiente.
- Tá certo D. Graça. Muito obrigado mesmo. E um bom final de semana pra senhora!
- Pro senhor também. Ó a roupa da semana já tá passada e guardada no armário. Do jeitinho que o senhor gosta, viu!
- Ok D. Graça. Vá com Deus!
Nossa! Ela parece que não quer ir embora, credo! Eu aqui doido pra ficar sozinho comigo mesmo.
Na academia ...
M chega para a sua seção de musculação. Cumprimenta a todos e pega sua ficha. Conversa rapidamente com seu personal segue para os aparelhos. Primeiro, bicicleta para aquecer. Quando chega perto das bicicletas ergométricas de última geração nota uma moça cujo rosto não lhe é estranho. Fica lhe observando tentando puxar pela memória de onde a conhece. Vai em direção a bicicleta ao seu lado pois é a única vazia. Chega, cumprimenta a vizinha de aparelho com a cabeça e recebe um largo sorriso como resposta.
- Não tá me reconhecendo, não é? Pergunta a jovem.
- Desculpe, mas não sou boa fisionomista. Mas confesso que seu rosto não me é estranho.
- A festa ... a fantasia ... ontem. Eu estava de cowgirl.
- Raquel! Meu Deus como não te reconheci! Desculpa.
- Imagina! Você, pendurada no pescoço do Tuca, por acaso iria guardar o nome de outra mulher. Disse isso rindo.
M riu de volta.
- E então? Vocês estão juntos?
- Não sei ao certo. Sabe como é. Tamos nos conhecendo. Vamos deixar como está pra ver como é que fica.
Em casa resolvo largar o jornal e almoçar logo. Afinal, não tava me concentrando mesmo. E além disso ainda tinha a reunião com o Leo mais tarde. Aproveitei que a comida ainda tava quente e me servi. Comecei a comer e uma dúvida me veio ao pensamento. Será que é receita da M também? Comecei a rir. Nãoooo. Essa carne assada a D. Graça já faz a tempos pra mim. Desde que começou a trabalhar aqui. Não, não é dela não. Mas tá gostoso tá. Termino de almoçar. Lavo e guardo tudo. Como amanhã não tenho empregada não gosto de deixar louça na cozinha, assim fica tudo arrumadinho. Do jeito que eu gosto. Volto para a sala e ligo a TV. Fico pulando os canais até que paro num documentário da vida animal. Resolvo assistir. Puxo as almofadas do sofá para um canto e me aconchego tentando relaxar um pouco. Quando começo a prestar atenção no documentário percebo que se trata da vida sexual dos insetos. Nossa! Barata faz sexo? Fico entretido com o programa e acabo cochilando no sofá mesmo. Acordo assustado com o som do meu celular ao longe. Olho pra TV e o documentário tinha acabado. Programa chato! Levanto-me e vou em direção ao meu quarto. Quando pego o celular ele para de tocar. Olho no visor e vejo o nº do Leo. Olho para o relógio digital. Nossa! Estou atrasado. Pego minhas coisas e vou saindo de casa e retornando a ligação pra ele.
- Onde você tá cara? Tá super atrasado.
- Desculpa Leo. Tô saindo, tô saindo e daqui a pouco tô aí. Acabei cochilando e perdi a hora. Já já chego. Disse isso desligando o celular em seguida e saindo de casa.
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