sábado, 3 de setembro de 2011


Entrei, tomei um banho, troquei de roupa e me deitei. Mas quem disse que consegui dormir? Aquele maldito papel não saia da minha cabeça, muito menos as palavras do nosso empresário. Com ele a tomar conta desse assunto minhas chances de encontrar o MEU AMOR diminuiriam drasticamente. Pois para ele nenhuma daquelas mulheres eram de confiança. Ele sempre me dizia.
- Você procura, procura e sempre se ilude. Se machuca. Para de procurar, deixa a vida tomar seu próprio rumo. Não tente fazer com que o que está destinado para você venha por outros caminhos de outra forma. O que tiver que acontecer, vai acontecer, no seu devido tempo e modo.
Tentei dormir um pouco mas minha cabeça estava a mil. Não preguei o olho a noite inteira. Será? Será que ele tinha razão? Quando dei por mim o dia já tinha amanhecido e logo partiríamos para mais uma cidade. Mais uma rotina.
Os dias passaram rapidamente, na madrugada de domingo para segunda terminou nossos compromissos semanais. Queria voltar correndo para Uberlândia. Não agüentava mais tanta solidão. Em casa pelo menos estaria sozinho mas comigo mesmo. Sem ninguém pra tomar conta de mim, me controlar e dizer o que eu teria que fazer naquele momento. Pedi para viajarmos a noite mesmo mas fui convencido a deixar para quando o dia amanhecesse, já era muito tarde, todos estavam extenuados e algumas horas a mais não iriam fazer diferença além disso era mais seguro viajar durante o dia. Concordei meio que a contra-gosto. Eu era voto vencido nessas discussões.
Amanheceu e eu mais uma vez não preguei o olho. Queria por que queria voltar para casa. Nem mesmo eu entendia essa minha urgência. Carência? Talvez. Decidi que iria passar o dia na casa da minha mãe. Precisava de seus carinhos e conselhos. Chegamos no aeroporto de Uberlândia e fomos recebidos pela família do Leo. Esposa e filho. Ah! Não falei do meu sobrinho. Lindo. Esperto. E muito falante também. Não puxou em nada o pai, pelo menos fisicamente, graças a Deus. Ô homem feio! Minha cunhada sim. Mulher linda, guerreira. Lutou ao nosso lado quando ainda tocávamos nos bares de São Paulo. Apóia, incentiva e torce por nós. Fico ali, observando-os como família e volto a me questionar. Quando é que terei a minha? Quando é que viverei esses momentos tão singulares? Resolvo ligar para minha mãe.
- Alô mãe? Sou eu. Posso ir pra aí?
Trocamos mais uma meia dúzia de palavras e me despeço, momentaneamente, dela. Desligo o telefone e vou ao encontro do Leo e sua família. Cumprimento a Tati e pego meu sobrinho no colo fazendo cócegas na sua barriga.
- Tá de carro? Pergunta meu irmão.
- Tô. Vou pra casa da mãe.
- Tá chateado, né! Passou o resto do tempo calado, com a cara fechada. Quer conversar?
- Não. Hoje não. Uma outra hora, talvez.
- Ta certo então. Qualquer coisa, já sabe né!
- Sei, sei sim e obrigado pelo apoio.
Despeço-me deles e sigo o meu caminho.
Os dias passam e essa semana não tem mais shows. Ótimo, preciso colocar o sono em dia além disso ainda tem coisas pra fazer para casa nova. Muita coisa pra arrumar e outras tantas pra comprar. A rotina em casa é diferente. Faço tudo de forma diferente. No meu tempo, do meu modo. Chega sexta-feira, ligo para alguns amigos, convido-os para colocarmos o papo em dia, tomar um chope, talvez. Sexta a noite, me arrumo para encontra-los. D. Graça já se foi e estou sozinho em casa. E meus pensamentos voltam a me atormentar. Será? Será que a encontrarei hoje? Já viu só, se eu a procuro por todo o país e ela está aqui? Bem perto de mim? Começo a rir sozinho. Definitivamente preciso urgente voltar a fazer análise. Vou procurar meu terapeuta no inicio da semana que vem. Decido.
Saio de casa, fecho tudo não sem antes conferir minha carteira e meus documentos. Identidade, cartão, dinheiro, documentos do carro, chaves. Lembro que não posso beber a menos que resolva voltar de táxi. Já sei. Vou propor o motorista da vez. Tiramos no palitinho quem não vai beber e assim todos ficamos a vontade. Rio. Eles não vão gostar da idéia, mas é mais seguro assim. Vou em direção ao elevador e ouço vozes vindo das escadas, não consigo identificar, risos femininos. É a noite hoje promete, e pra todo mundo.
Aperto o botão do elevador, no painel mostra que está no térreo. Fico acompanhando o apagar e acender das luzes em cada andar. Continuo a escutar as vozes e risos mas não entendo a conversa. Ô... como sou curioso. O elevador demora, olho novamente o painel e a luz está acesa no 3. Cessam-se as vozes. O elevador volta a subir. Quando abro a porta. Um susto. Vejo três criaturas intrigantes. Uma loira vestida de sereia que parece até que saiu de uma das estórinhas dos livros de conto de fadas que o Mateus tem. E duas morenas, uma de cabelo encaracolado, vestida como hippie. E a outra eu conheço, mas não lembro de onde. Busco pela memória. É a vizinha! a do bolo! como é mesmo o nome dela? Ah! Sim M. Ela está linda, num vestido longo, branco com uma corda amarela amarrada pela cintura. Cumprimento as moças entrando em seguida no elevador. M abaixa a cabeça.
É melhor deixar quieto. A loira, vestida de sereia então começa a falar.
- Você deve ter se assustado não é?
- Bom, não é todo dia que encontro seres assim no elevador do prédio onde moro. Respondo.
- Assim como? Retorquiu Elaine.
- Oras, você tá acostumada a encontrar uma sereia, uma hippie e uma ... uma... Você tá fantasiada de que mesmo M?
- Deusa grega. Respondeu imediatamente Carol.
- Que seja. Então, não é todo dia que eu abro a porta do elevador e me deparo com uma sereia, uma hippie e uma deusa grega. Vocês não costumam andar por aí assim, costumam? Brinquei.
- Não. Só as sextas-feiras. Riu a Carol.
Nossa! Confesso que levei um baita susto quando abri a porta do elevador. Estavam todas lindas, mas admito que M chamou minha atenção. Seu vestido longo, solto em seu corpo a deixava muito elegante. Mas a sereia, a loirinha, era muito bonita e divertida também.
Chegamos ao térreo. Abro a porta e seguro para elas saírem. M continuava muda. Mal olhava para mim. Quando ela passa sinto seu perfume. Nossa que perfume! Logo em seguida vem a loirinha. Toda sorridente agradecendo.
- Não quer ir conosco a festa? Convida a sereia.
- Não dá! Tenho compromissos, além disso, tô sem fantasia. Fica para uma outra oportunidade.
- Vou cobrar viu! Responde ela.
Nisso quem me aparece na portaria do prédio, cheia de embrulhos? D. Matilde. Ela vê as meninas. Olha para mim. E minha espinha recebe uma carga energética gelada. Ai meu Deus! Caímos na boca da D. Matilde!
- Olá meninas? Vão aonde tão lindas desse jeito? Pergunta olhando diretamente para M.
- Uma festa a fantasia. M finalmente resolve falar.
- Eu não vou! Entrei no elevador por engano. Respondo em seguida.
Ela solta um risinho baixo.
- Sei, sei bem como é.
Pronto. Já era.

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