Fui para o meu quarto, entrei, tomei um banho relaxante e me deitei. O tempo que teria disponível naqueles dias eu tinha que aproveitar para dormir, pois seriam poucas as horas de descanso. Apaguei logo em seguida. Na manha seguinte. Interior. Pegamos o ônibus, aquela confusão de sempre na porta do hotel. Não sei como elas conseguem descobrir onde nos hospedamos. A produção tem o maior cuidado com essa informação mas sempre descobrem. Tudo bem. Faz parte e admito. Sem as fãs não sou nada. Não vejo alegria em viajar para tão longe e cantar. Elas são a melhor parte de tudo isso.
Quando pegamos a estrada tudo mais tranqüilo. No caminho fico quietinho olhando pela janela a paisagem rural. Saudades. Saudades da minha infância. De Abre Campo. Olho meu irmão, também está com um olhar perdido na janela. Também sente saudades dessa época.
Chegamos a nossa próxima parada, Santa Cruz. Essa cidade me traz boas lembranças. Camila. Pena que não deu certo. Mas a vida é assim mesmo. A última vez que tive notícias dela tinha se mudado para o exterior. Austrália eu acho. É ... não era ela. Paciência e perseverança. Tenho esperanças que ainda hei de encontrar a minha outra metade. MINHA ALMA GÊMEA. Olho para o Nosso Empresário. Ele dorme. Tenho mesmo é que me livrar dele senão... nada feito.
Fomos direto para o hotel. E novamente muitas fãs na porta. Descemos do ônibus e enquanto a produção cuida das nossas bagagens atendemos algumas. Fotos, presentinhos, sorrisos e abraços. Nada como a doce rotina. Nos despedimos delas e vamos nos acomodar. Entrevistas e o show nos aguardam. No show aquela maravilha de sempre, local lotado, ingressos todos vendidos em menos de 1 semana. Começam os primeiros acordes. As cortinas ainda não se abriram mas posso ouvir o entusiasmo da platéia. Subo no palco não sem antes agradecer a oportunidade de estar ali. Pego meu violão e começo a dedilhar. As fãs, sempre elas, reconhecem o meu som e começa a gritaria. Sorrio. É! É aqui o local onde sou mais feliz, pelo menos até encontrar a MINHA AMADA, aí sim, a minha felicidade será dividida entre o palco e seus braços.
Abrem-se as cortinas. Volto na minha busca infatigável, olho as moças que estão próximas ao palco mas está escuro tenho que esperar mais alguns instantes até poder reparar melhor seus rostos. Na hora exata as luzes da frente do palco se acendem, agora sim, posso busca-la com mais nitidez. Olho diversos rostos. Como são bonitas as gaúchas. Verdadeiras misses. Noto bem em frente a mim uma loira, linda, cabelos longos um corte meio que selvagem, repicado, é, acho que é assim que se fala. Seus olhos falam por si, parece estar se divertindo, assim como eu, com o show. Para mim, cantar e estar nos palcos além de um prazer é a mais pura diversão. Dou uma piscadinha de olho pra ela que me retribui com um largo sorriso. As moças ao lado gritam, fãs, incansáveis fãs. Continuo com esse flerte mas não sinto emoção, pelo menos não a emoção de reconhecer aquela que já faz parte da minha vida mas admito uma forte atração pela loirinha. Meu lado animal começa a falar mais alto. Fico preocupado, não quero usar muito menos ser usado por ninguém. Respeito todas que se aproximam de mim. Seja para um simples carinho ou talvez um algo mais.
Passamos o show todo nesse flerte gostoso. Uma certa hora, quando o Leo pede para que os músicos cantem um pedaço da música e eu paro de tocar um pouco para descansar o braço, volto a olhar para ela que fala pausadamente para mim. “QUERO VOCÊ, UMA NOITE APENAS”. Fala não, mexe com os lábios, se bem que, se fala, eu não consigo ouvi-la. Então sorrio e respondo da mesma forma: TEM CERTEZA? E ela: TODA. Volto a sorrir e faço pose, flashes espocam. Começo a rir, loucura, mas admito que estou adorando aquela situação. Penso, será que estou fazendo o correto? Não estou usando ninguém? Não a resposta definitivamente é não. Somos adultos e não estamos nos enganando. Só queremos nos curtir por alguns instantes. Termina o show. Fecham-se as cortinas. Vou até o Nosso Empresário, tenho que resolver isso logo. Ele não vai embargar mais essa. Olho pra ele e sou catedrático:
- Ó. Vou chamar uma moça, ela é especial viu, e você nem tente barrar ela não. Se fizer isso saio do camarim e vou atrás dela de qualquer jeito e você que se vire com a segurança.
- Se fizer isso vai causar o maior tumulto. Não vou deixar ela nem entrar. Já falei, agora quem cuida disso sou eu. Retorquiu ele.
- Ah é! Então não tem bis. Tiro meu violão e entrego para o meu assistente de palco. E começo a me encaminhar para os bastidores.
- Ei! Aonde você pensa que vai? Pergunta ele assustado.
Me viro e percebo que todos estão a me olhar sem entender.
- Vou embora, sem bis, sem camarim. Tô voltando pro hotel. Agora. Mas antes vou lá embaixo busca-la. Ela vai comigo. Quer você queira ou não. Sentenciei.
Ele balança a cabeça negativamente. Ele sabe quando empaco sou pior que burro. Não faço o que não quero. Continuo a caminhar em direção ao camarim e as pessoas da produção se entreolhando e questionando. O que será que aconteceu?
Ele vem em minha direção. Segura meu braço me fazendo parar.
- Espera. Você não pode fazer isso. Você assinou um contrato.
- É! Processe-me então.
Respondi. Mas já percebi que tinha conseguido dobra-lo. Era difícil mas tinha minhas artimanhas. Ele gostava de tudo muito certinho, preto no branco e se algo sai do seu controle fica desesperado. Ele coça a cabeça confuso.
- E aí. Vai deixar ela entrar ou não? Forço a barra.
- Tá... tá. Mas é a última vez viu. Droga, você quando quer alguma coisa... Essa sua mania de procurar a mulher da sua vida ainda vai nos causar sérios problemas. Reclamou.
Eu apenas sorri. Tinha conseguido o que queria.
Aproximei de seu ouvido e falei baixinho.
- E quem disse que ela é a mulher da minha vida? É só tesão mesmo.
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