Ri e voltei ao palco pegando novamente meu violão. O Leo me
olhava tentando entender, eu só pisquei o olho pra ele e sorri então ele
compreendeu. Consegui escapar do crivo do nosso empresário.
Na platéia Carine, a loira que me encantou comentava com
suas amigas Sabrina e Aline. Ah! Hoje esse homem não me escapa. Eu pego ele de
jeito. Não vim de Santa Rosa só a trabalho não. Disse isso meio que na
brincadeira. Tinha ido até Santa Cruz a trabalho, pois tinha que ver algumas
pendências administrativas da agência de publicidade que administrava. Soube do
show e tinha ficado triste por não poder ir por conta do serviço. Quando foi
informada que teria que viajar até Santa Cruz e que ainda estaria na cidade no
dia do show. Combinou com as amigas de irem juntas. É uma moça muito correta,
justa e honesta. Tinha embarcado no meu flerte e como era independente e não
devia nada a ninguém resolveu que tinha que ver até onde iria esse namorico
relâmpago. Adriano, marido da Aline, ouvia tudo e não gostava nem um pouco.
Puxou sua esposa pelo braço e foi taxativo.
- Vamos embora, agora, nada de camarim pra senhora não. Você
é uma mulher casada e muito bem casada. O único galego que você vai ter sou eu.
-Calma, amor! Respondeu Aline. Tudo bem, eu vou com você,
mas o show não acabou ainda não. Vai ter bis. Aliás, meninas esse bis tá
demorando vocês não acham?
- Ele tá se preparando pra me encontrar. Brincou novamente
Carine em meio a risadas das moças ao seu redor. Todas estavam pensando a mesma
coisa. Até parece era ela que ele tava paquerando. Doce ilusão das moças. Doce
ilusão.
Enquanto isso no palco...
Volto ao meu lugar, ajeito meu violão e todos se aprontam
para o bis. Olho para o nosso segurança e o chamo até mim e digo:
- Vou te mostrar uma moça. Já falei com o empresário.
Você vai lá e busque ela para mim. Ela é especial. Especial entendeu?
- Entendi sim Victor. E acho que já sei de quem está
falando. Disse sorrindo. Vou ficar lá embaixo então. Virou-se indo em direção a
frente do palco.
Como assim? Ele já sabe quem é? Nossa! Será que dei tanta
pinta assim? Dou de ombros. O que realmente importa é: ela quer, eu também.
Olho para todos que só aguardam o meu sinal. Aceno com a
cabeça e começo a dedilhar meu violão então todos começam a tocar novamente. As
cortinas se abrem e a gritaria volta a fazer parte do cenário. Tá na hora da
despedida. Olho a minha amada. Ela continua lá sorrindo para mim. Me esperando.
Logo em seguida vejo o segurança. Ele se aproxima dela e se senta, bem na sua
frente e me sorri. Nossa! Dei na vista mesmo. Sorrio de volta balançando a
cabeça positivamente. Tudo armado então.
Terminamos o show. Entrego novamente meu violão para o
assistente de palco e vou cumprimentar a platéia. É nessa hora que escolhemos
quem vem ao camarim nos encontrar. Sei que é desejo de todas mas infelizmente o
tempo e o espaço não nos permitem recebe-las. Escolho mais algumas,
principalmente as que levam cartazes. Algumas pedem uma toalhinha, outras uma
palheta que jogo com cuidado para não tocar tumulto e ninguém se machucar. O
Leo faz o mesmo. As mais insistentes ganham esse momento. Afinal estão ali
desde cedo. Cantam todas as músicas, nada mais justo que dividir um pouco desse
nosso momento com elas. Olho para minha loirinha. Ela continua ali a sorrir
para mim. Seu sorriso é encantador mas tem um quê de safada também. Adoro!
Aponto para ela e faço sinal com meu indicador chamando-a. Ela sorri mais
ainda. Então o segurança se levanta e diz para ela. “Você. Espera o show acabar
e vem comigo, com mais ninguém. Você é especial”. Ela não acredita nas palavras
do segurança. Especial. Ele disse que era especial. Olha para mim. Que sorrindo
lhe mando um beijo. Ela sorri e manda outro em retribuição.
Novamente as cortinas se fecham. Pronto. Acabou. A
magia se encerra. Vou para o camarim me preparar para esse encontro. Sei que
não é amor. Infelizmente. Mas quem sabe, o amor pode vir com o tempo, com o
convívio. Entro e logo em seguida meu irmão. Nosso empresário vem logo atrás e
fecha a porta.
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