sexta-feira, 9 de dezembro de 2011


Na manhã seguinte acordei com a claridade do dia, virei para o lado e vi a bolsa de M ao meu lado. Como eu preferira que ao invés da bolsa fosse ela ali. Junto a mim.
- Que saudades! Suspirei acariciando o couro da bolsa.
Levantei e fui me arrumar para o dia mais difícil da minha vida. Me despedir definitivamente de M. Tomei um breve café. Continuava sem fome. Sai de casa e passei na produtora, pedi ajuda ao Rodrigo, produtor, sabia que não teria condições de fazer tudo sozinho. Saímos de lá direto ao IML, graças ao Marcel não tivemos empecilhos burocráticos. Saímos de lá com M, caixão fechado, por conta do estado em que seu corpo se encontrava, carbonizado. Fomos direito para o cemitério. Quanto mais rápido isso se acabasse, melhor. Mas a dor ... a dor, meu caro leitor, só fazia aumentar. Foi um enterro breve, simples e singelo como ela. Me despedi de M depositando uma rosa vermelha em seu túmulo. Sai dali mas uma parte de mim ficou, enterrado com M.


Pedi para Rodrigo resolver sobre o apartamento de M. Não tinha coragem nem forças para entrar lá. Lhe entreguei a bolsa e com ela as chaves de seu apartamento. Voltei pra casa e fui direto para meu quarto. Estava exausto e no final de semana teria shows novamente. Tinha que voltar logo aos palcos caso contrário, não voltaria nunca mais. Prometi a mim mesmo e a M, em seu túmulo, que tentaria a todo custo voltar a viver mesmo que fosse pela metade. Rodrigo conseguiu resolver tudo, doou as roupas de M a uma casa de caridade, junto com alguns dos móveis. Entregou o apartamento na imobiliária que o administrava, M era uma pessoa muito organizada então não foi difícil resolver as coisas. Dois dias depois estava eu no aeroporto, pronto para voltar a minha rotina. Encontrei com Rodrigo que me entregou um pequeno embrulho.
- Toma. Consegui resolver tudo mas guardei isso pra você. Caso queira ficar com alguma lembrança.
Abri o pequeno pacote e vi que era um porta retrato, com uma foto de M, linda e sorridente. Ela era feliz, mesmo com tanta rejeição e tanta dificuldade não tinha se deixado vencer e sempre estava sorrindo. Fechei os olhos e respirei fundo tentando controlar a dor que já me dominava por completo. Agradeço ao Rodrigo pela ajuda, se não fosse assim, com certeza não conseguiria seguir adiante. Retirei a foto do porta retrato e a guardei em minha pasta, junto ao meu caderno de composições. Assim a teria por perto, sempre. Então voltei a minha rotina que já não era mais a mesma. Eu não era.
No primeiro show, o primeiro sem M. Percebi o quanto seria difícil para eu continuar, mas eu tinha feito uma promessa e iria tentar cumpri-la a qualquer custo. Foi a forma que encontrei de continuar o meu caminho. Todos me apoiaram e me ajudaram. Cantar era uma forma de homenagear M, não a mulher que amo mas a fã que tantas vezes esteve por perto e longe ao mesmo tempo.


 


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