quinta-feira, 8 de dezembro de 2011


Assim que cheguei em casa percebi que tinha visita, um homem tomava café na minha sala. Ao ver que tinha chegado, se levantou e se virou para a porta.
- Marcel! Tudo bem?
- Olá Victor! Como você tá? Vim aqui te ver e pedir sua ajuda.
- Indo. Fazer o quê? Não temos controle sobre essas coisas né! Disse tentando me conformar. Mas me diga. O que você tá precisando?
Marcel tinha um pacote em mãos. Ele me entregou. Abri e era a bolsa de M. Tinham levado para a delegacia e não sabiam de nenhum parente dela. Pelo menos não encontraram ninguém. Senti um aperto na garganta e meus olhos marejarem. Respirei fundo e olhei novamente para Marcel.
- Você é a única pessoa que era mais próximo a ela. Não conseguimos encontrar o paradeiro de parentes. É bastante estranho.
- Ela era sozinha. Respondi.
Pelo menos a dor de rejeição de seus pais iria ser preservada. Era um segredo de M e que se dependesse de mim tinha morrido com ela.
- Foi o que imaginei. Não conseguimos extrair o DNA do corpo encontrado, mas encontramos rastros na mata, perto da fronteira. Algumas pegadas, pelo menos de duas pessoas e uma terceira, arrastada. Não temos dúvida, Tuca foi resgatado pelo tráfico boliviano, perdemos mais uma vez. Não sei o que fazer com isso. Disse apontando para a bolsa. Então pensei em você. Talvez você soubesse de alguém, algum parente mais próximo.
- Ela não tinha ninguém. Reiterei.
Perguntei pelo corpo e Marcel me informou que já estava sendo trazido para Uberlândia, na manhã seguinte, se fosse do meu agrado, poderia requisita-lo no IML sem me preocupar com as burocracias. Marcel havia orientado para que o liberassem para mim. Agradeci ao Marcel e ele se despediu logo em seguida. Assim que fechei a porta e voltei a ver aquela bolsa ali sentei no sofá, a peguei e abracei me deixando vencer pela dor.

 

Fui arrancado do meu dolorido transe com a voz de D. Graça.
- Seu Victor!
- Hã! Sim D. Graça.
- A janta. O senhor não comeu nada nem ontem nem hoje, o senhor precisa comer alguma coisa senão vai acabar doente.
Doente, muito doente, mortalmente doente, era assim que me sentia. Mas a minha cura já não existia mais.
- Não, obrigado. Não tenho fome.
Levantei daquele sofá, o mesmo onde M quase que inconsolável tinha sentado para se desculpar pelo soco que Tuca havia me dado. Respirei fundo, tentando controlar uma dor incontrolável. Fui para o meu quarto, fechei a porta e me sentei na cama abrindo a sua bolsa. Comecei a mexer em suas coisas, seu batom, sua carteira, ao abrir me deparei com uma foto minha, uma foto feita comercialmente, senti um aperto muito grande no peito e logo as lágrimas rolaram em minha face. Vi as chaves do seu apartamento então parei para pensar. E agora? As suas coisas, como farei? Coloquei tudo na bolsa novamente. Amanhã penso nisso. Hoje não. A saudade ainda é muito forte pra me preocupar com coisas práticas. Voltei a me deitar. Adormeci abraçado a bolsa de M. Podia sentir o cheiro de seu perfume nela.




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