sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Saímos dali e fomos nos afastando da cidade. Fiquei um pouco reticente mas alguma coisa dentro de mim dizia que era para confiar nele. O Victor me levou para uma praça no alto de um morro, de onde podia se ver toda a cidade. Um local lindo. Ele estaciona o carro em frente ao precipício, e de dentro do carro tínhamos essa bela vista noturna de Uberlândia.



Ele tira o cinto de segurança e relaxa no banco como que tentando ficar a vontade naquele momento. Seu olhar se perde no horizonte.
ANALU: Tá tudo bem?
VICTOR:  Tá sim. Gosto daqui.
Olho para o mesmo local que ele tá olhando. A paisagem era linda.
ANALU:  Olhando assim, a cidade, me sinto tão pequena!
VICTOR: Eu vejo o quão grande é o meu sonho.
Fico fitando-o como que se quisesse entender essa sua observação Então ele continua.
VICTOR: Sabe Analu, eu vim de uma cidade muito pequena, cerca de 10 mil habitantes. Lá já não comportava mais meus objetivos. E gosto de vir aqui quando sinto dificuldades pra alcança-los. Aqui me sinto livre e com minha energia renovada para continuar seguindo meu caminho.
ANALU: E que caminho é esse? Quais são os seus sonhos?
Victor então me sorri. Acho que era exatamente isso que ele esperava de mim. Essas perguntas foram como uma chave que abriria um caminho para o seu coração.


 

VICTOR: O caminho árduo do reconhecimento também conhecido como sucesso. Na profissão que escolhi para mim esse é um caminho que nem sempre conseguimos alcançar. Você pode trabalhar uma vida inteira e ninguém compreender o que você faz. Muito menos gostar. Esse é o meu sonho. Poder ser reconhecido pelo meu trabalho, pela minha música, tocar a alma das pessoas, faze-las se emocionarem.
ANALU: Você é feliz cantando?
VICTOR: Sim. Muito!
ANALU: Então isso é o que importa Victor. O reconhecimento virá com certeza pois sempre que fazemos o que gostamos, fazemos com amor e as pessoas reconhecem isso.
VICTOR: É mas às vezes bate o desespero sabe! Parece que tudo vai de encontro, como que para te fazer desistir. É muito difícil. Longe de casa, da família, dos amigos ...
Afago seus cabelos como que se fosse possível reconforta-lo.
ANALU: Sei bem como é. Eu também estou longe dos meus.
O Victor me olha, como que suplicando esse conforto. Olho para ele com ternura.
VICTOR: Às vezes me sinto completamente só.
ANALU: Mas você não está.
VICTOR: Será? Em certos momentos não sinto isso.
ANALU: Pois acredite em mim. Você não está!
Olhei novamente para a cidade, tão pequena e tão grande ao mesmo tempo.
ANALU: Sei exatamente como é esse sentimento. Você se vê sozinho, acuado, tudo e todos em sua volta se afastam de ti. Como se você e somente você fosse o culpado por uma situação que não é a que você sonha, deseja. Mas acredite em mim Victor. Por mais difícil que seja a situação você sempre terá pessoas que te amam ao seu lado, torcendo por ti. Podem não estar próximas, geograficamente, mas estão em alma, pensamento e principalmente em coração.
A cada palavra por mim dita faziam a nuvem negra que tinha surgido em seus olhos se dissipar. Percebi que a nossa conversa era mais que um desabafo dele. Era um pedido de resgate. Resgata-lo de suas angustias e medo. Quando percebi isso desisti de contar para ele sobre a existência do Leo. Não era o momento. O Victor viu em mim uma confiança que não tinha em mim mesma, decidi não decepciona-lo. Ele se aproxima de mim, me dá um delicado beijo nos lábios e se aconchega em meu ombro enquanto que acaricio seus cabelos. Ficamos assim por um bom tempo, esquecidos em seus próprios pensamentos. Quando nos demos conta, já estava amanhecendo. Solto um longo e profundo suspiro, voltando de meus devaneios.
VICTOR: Quer ir embora?
ANALU: Preciso.
Sinto que ele volta a se entristecer.
VICTOR: Não fui uma boa companhia hoje né?
ANALU: Imagina! É bom saber que não sou só eu que às vezes me sinto completamente sozinha.
VICTOR: Obrigado!
ANALU: Por que?
VICTOR: Por aceitar sair comigo ... por me ouvir.
ANALU: Não se preocupe. Quando eu me sentir assim já sei a quem recorrer.
Ele sorri. Nos ajeitamos novamente nos bancos e vamos embora. Chegando em frente ao prédio onde moro o Victor estaciona o carro bem em frente ao portão, desliga o carro e retira seu cinto de segurança, virando-se para mim fala:
VICTOR: Obrigado novamente.
ANALU: Se você me agradecer outra vez vou começar a achar que não devemos sair mais.
Disse brincando.
VICTOR: Não! Não tá mais aqui quem falou, digo, quem agradeceu.
Brincou também.
Eu ri. Olhei para o portão.
ANALU: Tenho que entrar.
VICTOR: Não vai me convidar pra subir?
ANALU: Não dá. Esqueceu? Eu moro com a Bruna.
VICTOR: Ah! É verdade. Pena.
ANALU: Quem sabe uma outra vez.
VICTOR: Então teremos uma outra vez?
ANALU: Sim. Ou você não quer?
VICTOR: Quero! Quero e muito! Quando?
ANALU: Calma! Você me liga?
VICTOR: Ligo. Essa semana ainda tá?
ANALU: Combinado. Ficarei aguardando.
Ele então se aproxima de mim e me beija, novamente um beijo intenso e profundo. Perco até meus pensamentos em seus braços. Saio do carro e dou a volta, ele abre a janela do carro e me sorri.
VICTOR: Tenha um Bom Dia!
ANALU: Você também! Dirija com cuidado tá!


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