Saímos
dali e fomos nos afastando da cidade. Fiquei um pouco reticente mas alguma
coisa dentro de mim dizia que era para confiar nele. O Victor me levou para uma
praça no alto de um morro, de onde podia se ver toda a cidade. Um local lindo.
Ele estaciona o carro em frente ao precipício, e de dentro do carro tínhamos
essa bela vista noturna de Uberlândia.
Ele tira o
cinto de segurança e relaxa no banco como que tentando ficar a vontade naquele
momento. Seu olhar se perde no horizonte.
ANALU: Tá
tudo bem?
VICTOR: Tá sim. Gosto daqui.
Olho para o
mesmo local que ele tá olhando. A paisagem era linda.
ANALU: Olhando assim, a cidade, me sinto tão
pequena!
VICTOR: Eu
vejo o quão grande é o meu sonho.
Fico
fitando-o como que se quisesse entender essa sua observação Então ele continua.
VICTOR:
Sabe Analu, eu vim de uma cidade muito pequena, cerca de 10 mil habitantes. Lá
já não comportava mais meus objetivos. E gosto de vir aqui quando sinto
dificuldades pra alcança-los. Aqui me sinto livre e com minha energia renovada
para continuar seguindo meu caminho.
ANALU: E
que caminho é esse? Quais são os seus sonhos?
Victor então me sorri. Acho que era exatamente
isso que ele esperava de mim. Essas perguntas foram como uma chave que abriria
um caminho para o seu coração.
VICTOR: O
caminho árduo do reconhecimento também conhecido como sucesso. Na profissão que
escolhi para mim esse é um caminho que nem sempre conseguimos alcançar. Você
pode trabalhar uma vida inteira e ninguém compreender o que você faz. Muito
menos gostar. Esse é o meu sonho. Poder ser reconhecido pelo meu trabalho, pela
minha música, tocar a alma das pessoas, faze-las se emocionarem.
ANALU: Você
é feliz cantando?
VICTOR:
Sim. Muito!
ANALU:
Então isso é o que importa Victor. O reconhecimento virá com certeza pois
sempre que fazemos o que gostamos, fazemos com amor e as pessoas reconhecem
isso.
VICTOR: É
mas às vezes bate o desespero sabe! Parece que tudo vai de encontro, como que para
te fazer desistir. É muito difícil. Longe de casa, da família, dos amigos ...
Afago seus
cabelos como que se fosse possível reconforta-lo.
ANALU: Sei
bem como é. Eu também estou longe dos meus.
O Victor me
olha, como que suplicando esse conforto. Olho para ele com ternura.
VICTOR: Às
vezes me sinto completamente só.
ANALU: Mas
você não está.
VICTOR:
Será? Em certos momentos não sinto isso.
ANALU: Pois
acredite em mim. Você não está!
Olhei
novamente para a cidade, tão pequena e tão grande ao mesmo tempo.
ANALU: Sei
exatamente como é esse sentimento. Você se vê sozinho, acuado, tudo e todos em
sua volta se afastam de ti. Como se você e somente você fosse o culpado por uma
situação que não é a que você sonha, deseja. Mas acredite em mim Victor. Por
mais difícil que seja a situação você sempre terá pessoas que te amam ao seu
lado, torcendo por ti. Podem não estar próximas, geograficamente, mas estão em
alma, pensamento e principalmente em coração.
A cada
palavra por mim dita faziam a nuvem negra que tinha surgido em seus olhos se
dissipar. Percebi que a nossa conversa era mais que um desabafo dele. Era um
pedido de resgate. Resgata-lo de suas angustias e medo. Quando percebi isso
desisti de contar para ele sobre a existência do Leo. Não era o momento. O Victor
viu em mim uma confiança que não tinha em mim mesma, decidi não decepciona-lo.
Ele se aproxima de mim, me dá um delicado beijo nos lábios e se aconchega em
meu ombro enquanto que acaricio seus cabelos. Ficamos assim por um bom tempo,
esquecidos em seus próprios pensamentos. Quando nos demos conta, já estava
amanhecendo. Solto um longo e profundo suspiro, voltando de meus devaneios.
VICTOR:
Quer ir embora?
ANALU:
Preciso.
Sinto que
ele volta a se entristecer.
VICTOR: Não
fui uma boa companhia hoje né?
ANALU:
Imagina! É bom saber que não sou só eu que às vezes me sinto completamente
sozinha.
VICTOR:
Obrigado!
ANALU: Por
que?
VICTOR: Por
aceitar sair comigo ... por me ouvir.
ANALU: Não
se preocupe. Quando eu me sentir assim já sei a quem recorrer.
Ele sorri.
Nos ajeitamos novamente nos bancos e vamos embora. Chegando em frente ao prédio
onde moro o Victor estaciona o carro bem em frente ao portão, desliga o carro e
retira seu cinto de segurança, virando-se para mim fala:
VICTOR:
Obrigado novamente.
ANALU: Se
você me agradecer outra vez vou começar a achar que não devemos sair mais.
Disse
brincando.
VICTOR:
Não! Não tá mais aqui quem falou, digo, quem agradeceu.
Brincou
também.
Eu ri.
Olhei para o portão.
ANALU:
Tenho que entrar.
VICTOR: Não
vai me convidar pra subir?
ANALU: Não
dá. Esqueceu? Eu moro com a Bruna.
VICTOR: Ah!
É verdade. Pena.
ANALU: Quem
sabe uma outra vez.
VICTOR:
Então teremos uma outra vez?
ANALU: Sim.
Ou você não quer?
VICTOR:
Quero! Quero e muito! Quando?
ANALU:
Calma! Você me liga?
VICTOR: Ligo.
Essa semana ainda tá?
ANALU:
Combinado. Ficarei aguardando.
Ele então
se aproxima de mim e me beija, novamente um beijo intenso e profundo. Perco até
meus pensamentos em seus braços. Saio do carro e dou a volta, ele abre a janela
do carro e me sorri.
VICTOR:
Tenha um Bom Dia!
ANALU: Você também! Dirija com cuidado tá!
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