Engraçado como são as coisas na vida. Principalmente o fato que nada é por acaso. Acabei de preparar as postagens de hoje e estava com esse link aberto para poder ler este texto que reproduzi abaixo. Muito interessante e profundamente ligado ao que busco ter com meus leitores.
Segue o texto e seu link:
"Quem escreve geralmente tem um diário, um caderno de impressões, um
arquivo ou alguma forma de lançar ideias. Cartas – sejam elas escritas
em papéis ou digitadas – podem ser tão interessantes que dá uma certa dó
pensar que apenas uma pessoa no mundo – o destinatário – irá lê-las.
Sem exagero, algumas interações virtuais totalmente despretenciosas
podem ser verdadeiras pérolas, com frases de efeito, pensamentos
profundos, sacadas geniais de humor.
Como um criador que tem orgulho da sua criatura, não é incomum que
uma pessoa acabe realmente publicando o que a princípio não era para ser
lido. Pessoas que copiam e colam suas conversas de MSN, trazem textos
antigos à tona, publicam e-mails. Às vezes dá certo, outras vezes não.
O meio em que escrevemos e o leitor que temos em mente na hora que
escrevemos determina o conteúdo da nossa escrita. Sempre,
inevitavelmente.
Os meios por terem limites de caracteres, por terem uma forma própria
de diagramação, a possibilidade de “curtir”, um tempo longo ou curto
até ser recebido, a privacidade de ser lido apenas uma pessoa ou por
várias.
Em chats, usamos frases curtas e rápidas, para não perder o fio da
conversa, enquanto em posts há a possibilidade de corrigir infinitamente
antes de deixar os outros verem.
Publicar num mural do facebook não é o mesmo que publicar num mural
de verdade, que não é a mesma coisa que escrever um bilhete, e por aí
vai.
O leitor é determinante porque dele imaginamos as referências. Se
achamos que o nosso leitor é burro, simplificaremos a mensagem; se ele
compartilha conosco várias experiências e maneiras de ver o mundo,
podemos aludir vagamente algumas idéias com a certeza de que seremos bem
interpretados; se é um leitor desconhecido, colocaremos a prudente
máscara social pela qual queremos ser vistos; se é o nosso amor, podemos
escrever ridículas cartas de amor…
Misturar esses meios é misturar referências, e nem sempre isso rende
um bom texto. Piadas, conversas ou tiradas geniais entre amigos podem
ser muito interessantes entre eles, mas não me interessam. Um texto,
para merecer ser chamado de texto, precisa ter início, meio e fim. Ele
precisa conter uma idéia e ter o mínimo de acessibilidade.
Se o texto só pode ser entendido por quem conhece o autor e sua
história de vida, ou por quem já tomou umas cervejas com ele, algo está
errado. Uma vez escrito, um texto é uma realidade independente – não
dizemos que uma obra é duradoura justamente quando tem a capacidade de
falar a muitas pessoas, em países e épocas diferentes?
Por isso eu defendo que se escreva pensando no leitor. Se o texto for
o enxerto de algo pessoal, que se leve em conta que o meio mudou e se
façam as alterações necessárias. Querer ser um escritor de suas
memórias, suas conversas com os amigos, suas cartas pessoais e seu mundo
não é querer ser exatamente escritor…"
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