domingo, 15 de julho de 2012

Capítulo 5 - Duas vidas numa mesma estória


Respirou fundo então continuou.
 
- Eles saíram as pressas da cidade. Sem dar paradeiro. Depois de muito custo descobri que eles tinham vindo pro Rio. Eu juntei todas as minhas economias, eu estava juntando pra me casar com Virgínia. E peguei minha malinha de roupas e vim para o Rio de Janeiro. Sem conhecer nada nem ninguém, mas decidido a ficar com Virgínia e com o nosso filho. Nada nem ninguém iria nos afastar.
Sua voz agora era grave e imponente, seu sentimento de raiva era evidente em suas palavras.
- Mas ... você a encontrou?
Eu estava cada vez mais envolvida com esse relato, mal sabia a importância e o impacto que essa estória iria causar em minha vida.
- Sim, aquela prima que lhe falei, a Suzana, me deu o endereço de onde eles estavam, era uma casa no Alto da Boa Vista.


- Foi um problema e uma confusão enorme. Dr. Raul chamou até a polícia. Não me deixaram vê-la. A Virginia ficou nervosa e começou a entrar em trabalho de parto. Ela tava de 7 meses. Foi levada às pressas pra maternidade aí começou o meu pior pesadelo.
Eu simplesmente não conseguia sequer respirar direito diante de tanta coisa pela qual ele havia passado. Ele novamente parou de falar, seu olhar voltou a entristecer, como da primeira vez em que nos vimos. Ficou longos minutos em silêncio, admirando o mar. Ele soltou um longo suspiro e então continuou.
- Eles levaram Virginia pro hospital e lá não puderam me impedir de entrar mas era uma situação difícil e delicada. Dr. Raul me fuzilava com os olhos e tentou de todas as formas me negar qualquer informação. Virginia deu a luz a um menino, mas segundo soube depois, devido a complicações no parto e por estar grávida de 7 meses a criança nasceu e morreu logo em seguida - Sua voz começou a embargar de emoção - Não cheguei nem a ver o seu rostinho.
- E Virgínia? Você conseguiu falar com ela?
- Não. Dr. Raul é um homem bastante influente e conseguiu me impedir de estar com ela. Só conseguia informações pois as enfermeiras ficaram com pena de mim naquela situação desesperadora. Mas a pior notícia não foi à morte do nosso filho.
- Não? O que aconteceu?
Mais um longo suspiro.
- Dois dias depois de ficar completamente sem notícias de Virginia, um rapaz, a mando do Dr. Raul, se aproximou de mim na recepção do hospital, pois ele simplesmente havia proibido meu acesso ao andar em que Virgínia estava internada. Esse rapaz me trouxe a terrível notícia. Virgínia viera a falecer. Segundo esse mesmo rapaz ela tinha entrado em depressão por conta da perda do bebê e morreu de tristeza.
Seus olhos agora estavam cheios de lágrimas que corriam como rios caudalosos pela sua face. Sua voz se calou e um imenso e incomodo silêncio se instalou entre nós.

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