Resolvi não responder, aliás, não
falar nada. Quem sabe com o meu silêncio ele não se mancava e me deixasse em
paz? Mas não foi o que aconteceu ... então ele continuou.
- Me chamo Osvaldo, não sou daqui
do Rio, sou mineiro mas atualmente moro em Salvador. E essa ... – ele abre a
carteira e retira um retrato antigo - ... essa era Virgínia.
Diz mostrando a foto.
Peguei a foto de sua mão e levei o maior susto da
minha vida. Era EU naquela foto. Com roupas psicodélicas e de um gosto que eu
chamaria de duvidoso mas que com certeza seria a última moda na década de 70.
Ele prosseguiu, uma voz baixa e
calma. Bem diferente do nosso primeiro encontro. Resolvi escutar a sua
história. A MINHA HISTÓRIA.
- Fomos namorados por quase 2
anos. A conheci quando ela tinha apenas 14 anos e eu ... eu era só um rapaz do
interior de Minas Gerais, com 17 anos, cheio de sonhos e sem maldades no
coração. Virginia era uma moça linda! A mais linda que eu já vi na minha vida.
Não foi difícil me apaixonar por ela. Esse aqui, ao seu lado esquerdo, sorrindo,
sou eu.
Ele então aponta para um rapaz
que estava ao MEU LADO na foto, digo, ao lado da moça que era idêntica a mim. O
sorriso era farto. Mostrava claramente o quanto ele era feliz. EU, quero dizer,
Ela, também sorria, também feliz.
- Então um dia ... um belo dia
como hoje – disse admirando o céu azul sem nuvens - ... Virginia me procurou
muito nervosa e assustada. Ela me deu a mais incrível notícia. Virginia estava
grávida. Um filho! ... Tá, não tínhamos planejado mas ... – suspirou – ... um
filho é sempre uma benção. Era a materialização em forma de gente de um
sentimento forte, profundo. Como o nosso amor. Relembrou saudosista.
De repente, meu celular toca.
Levo um susto pois estava concentrada em sua estória. A noite já tinha caído e
nem tinha me dado conta da hora. Ele volta a tocar mas eu ainda estava atenta
ao que aquele homem me falava.
- Não vai atender?
- Hã!
- O seu celular.
- Ah! Desculpa. Alô! Ah! Oi mãe
... não, tô em copa já ... não, não, já tô indo. Beijos.
Ele me sorri, um sorriso tímido.
- Desculpa, era a minha mãe.
Tenho que ir. Ela tá me esperando.
Falei um pouco sem jeito.
- Sem problemas. Vá sim, não se
deve deixar os pais esperando. Eles ficam preocupados. Aconselhou-me.
- Tchau. Outra hora continuamos?
Perguntei sem graça mas admito,
quis saber mais sobre a história daquele homem cujo olhar triste e perdido
tanto me impressionou.
Ele sorriu abertamente, feliz com
o meu interesse na sua história.
- Sim, sim. Ainda estarei na
cidade por mais alguns dias. Nos vemos amanhã, aqui. Pode ser? Perguntou
ansioso.
- Mais ou menos nesse horário?
Perguntei sem acreditar em mim
mesma por estar perguntando isso.
- Combinado!
Nos despedimos e segui pra casa, ansiosa para chegar o
dia seguinte.